179º aniversário da passagem de D. Miguel por Alvalade

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10 Comentários

Casa (em Alvalade) onde D. Miguel passou a última tarde e a última noite da sua permanência em Portugal.Após a Convenção de Évoramonte, de 27 de Maio de 1834, dirigiu-se o príncipe destronado, de Évora para Sines, no dia 30, entrando na freguesia de Alvalade, pela carreteira da Herdadinha, à uma hora da tarde de 31, sob um sol tropical, escoltado pelo Regimento de Lanceiros da Rainha, comandado pelo Tenente Simão Infante de Lacerda. Chegados a Alvalade, hospedou-se o régio exilado em casa do proprietário Luis da Lança Parreira, que, com sua esposa, D. Teresa Luísa da Lança Parreira, deram ao hóspede o melhor acolhimento. Nessa casa, que ainda existe e é propriedade da família Felix, passou D. Miguel a última tarde e a última noite da sua permanência em Portugal. Na manhã do dia 1 de Junho de 1834, ao despedir-se dos seus atenciosos hospedeiros, duas lágrimas teimosas afloraram aos olhos do infeliz príncipe. Seria gratidão pela carinhosa hospedagem? Mágoa pelas afrontas recebidas? Seria o prelibar da nostalgia, da saudade gosto amargo dos infelizes, abutre, que começara a devorar-lhe o peito? Seria tudo isso, porque nessas horas dolorosas, tudo sentem as almas atribuladas… Chegaram, pelas 5 da tarde, a Sines, aonde eram esperados por dois navios de guerra, ingleses, a fragata Stag e a corveta Nenod, que os salvaram, no acto do embarque. E, quando ao escurecer, o régio exilado, debruçado na amurada da Stag, contemplasse as águas serenas da baia e a dentadura carcomida do castelo, por certo diria como o nosso grande épico:

Esta é a ditosa pátria minha amada

A quasi o Céu me dá que eu sem perigo

Torne com esta empreza já acabada

Acaba-se esta luz ali consigo 

                            (Lusíadas, Canto III. Est. XXI)

Mas não tornou, não mais viu o sol brilhante de Portugal, e a luz extinguiu-se-lhe em terra estranha, a mais bronca jazida, a mais fria sepultura para um peito português. Na referida casa, com a precipitação da retirada, deixou o Senhor D. Miguel uma espada, que o célebre miguelista Remexido ali mandou buscar, algum tempo depois, e uma faca com o cabo de prata, oitavado, já gasto, com as iniciais R.F. encimadas pela coroa real, que a família Albino, de Messejana, guarda como recordação dos acontecimentos. Foi para perpetuar este facto histórico, que a Junta de Freguesia de Alvalade propôs, em sessão de 1 de Maio de 1925, e o Senado Municipal de Santiago do Cacém aprovou, por unanimidade, que a Rua da Estalagem, aonde se encontra a referida casa, passasse a denominar-se “Rua 31 de Maio de 1834”.

_”Omega”, pseudónimo de Jorge de Oliveira (1865-1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, in jornal “Nossa Terra”, edição de 6 de Dezembro de 1931.

 

Completam-se hoje, dia 31 de Maio, 179 anos sobre a passagem de D. Miguel por Alvalade. A casa dos Lança Parreira referida no artigo e documentada na fotografia, foi posteriormente demolida assim como algumas habitações térreas na Praça D. Manuel I, em cujo espaço foi posteriormente edificada a sede da Casa do Povo de Alvalade, inaugurada em 1964. 

_LPR

10 Respostas a 179º aniversário da passagem de D. Miguel por Alvalade

  1. José Raposo Nobre   31 de Maio de 2013 at 12:07

    Muito bem Luis, é uma importante recordação histórica.
    Passou por Alvalade e ao despedir-se de Portugal partiu da cidade onde nasci e certamente levou na memória o Castelo de Sines onde vivi até aos 5 anos. Segundo informações o Castelo foi construido no séc. XIV para defender as populações dos ataques da pirataria maritima, tal como o Castelo de S. Filipe, em Setubal e o Forte de S.Clemente, em V.N. de Milfontes.
    JRN

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  2. Matilde Oliveira   31 de Maio de 2013 at 12:47

    Mais um belo artigo do padre Jorge de Oliveira. Parabéns!!!!

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  3. Maria Dores Carvalho Amado   1 de Junho de 2013 at 7:01

    …Tendo esta comitiva que acompanhava seu querido rei destronado passado por Ferreira do Alentejo, onde não foi bem recebido, dirigiu-se então para Alvalade e saciando a sede na Herdadinha todos se dirigiram p o simples municipio de Alvalade. D. Miguel agradeceu muito o acolhimento do povo e levou Alvalade no seu coração.
    Obrigada Luís por nos recordar este episódio dos tempos em que esse municipio ainda existia. Li uma vez num consultório uns trechos sobre D. Miguel.

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  4. José Raposo Nobre   1 de Junho de 2013 at 11:37

    Lendo o comentário da amiga Dorinhas, recordei que, segundo li, foi devido à boa receção que Alvalade ofereceu a D.Miguel, vencido nas lutas com seu irmão, que o concelho foi extinto em 1836, passando a vila a pertencer ao concelho de Messejana, depois Aljustrel e Santiago. O mesmo sucedeu a outros concelhos que lhe deram apoio. Houve uma reforma administrativa que reduziu o número de freguesias e concelhos e a “vingança” imperou.
    JRN

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    • admin   3 de Junho de 2013 at 11:37

      Foram extintos muitos concelhos de norte a sul, na sequência da reforma administrativa liberal, que não eram assumidamente miguelistas nem deram qualquer apoio a D. Miguel I.
      Penso que o caso da extinção do concelho de Alvalade não se justifica na permoita dada a D. Miguel, ou pelo menos não será essa a razão principal.
      _LPR

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  5. Francisco Lobo de Vasconcellos   3 de Junho de 2013 at 10:54

    Alvalade nunca deve esquecer esta página da sua história e sugiro recordá-la mais vivamente para o ano, nos 180 anos desta data!
    Sobre a recepção ao Senhor D. Miguel, em Ferreira, Sines e Alvalade, existia um dito que rezava assim: “De Sines e Ferreira farei uma eira…a Alvalade farei cidade”.
    Infelizmente a sorte dos vencidos ditou que Alvalade deixasse de ser Concelho!

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    • admin   3 de Junho de 2013 at 11:43

      Aqui tentamos lembrar essas datas e outros episódios importantes da história de Alvalade, para que essa memória não se perca e possa ser relembrada. No próximo ano completam-se 180 anos sobre a passagem de D. Miguel por Alvalade. É um facto histórico importante da freguesia e um número redondo que justificaria ser devidamente assinalado com um programa que dignifique a efeméride.
      Contudo, não sabemos se as instituições e autoridades administrativas de Alvalade pretendem ou não assinalar essa data importante.
      Já tivemos outras datas igualmente importantes da história da terra que não mereceram qualquer atenção ou iniciativa.
      _LPR

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  6. Carmo Candeias   7 de Junho de 2013 at 18:16

    Adorei simplesmente. O motivo não o percebi ainda, não sou legalmente natural de Alvalade, mas considero-me como se o fosse, porque abracei-a desde muito jovem e criei com ela uma forte ligação que nunca quebrará. Será isso? Não sei. O que sei de certeza absoluta, é que não encontro muitos Alvaladenses (verdadeiros) e especialmente alguns deles politicos mostrarem interesse na divulgação da sua Terra. É o que sinto. Lamento.

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  7. Henrique Albino Figueira   12 de Junho de 2013 at 18:04

    Parabéns ao Alvalade.info por mais este belíssimo apontamento.
    Os 180 anos da passagem do Senhor D. Miguel mereciam uma publicação à altura. Cá estou ao dispor para tal.

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    • admin   13 de Junho de 2013 at 9:37

      Muito obrigado, Henrique.
      Não duvido que se um dia avançar alguma pulbicação sobre a passagem de D. Miguel por Alvalade que a sua família, ligada aos Lança Parreira que acolheram o rei deposto, disponibilizarão o vosso apoio. Pode até ser a oportunidade dos alvaladenses poderem ver, pela primeira vez, a faca de cabo oitavado que o Senhor D. Miguel deixou em Alvalade.
      _LPR

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