No dia 29 de Junho de 1956, o Cine-Alvalade abriu as portas pela primeira vez com a exibição do filme “O Escudo Negro de Falworth”, realizado dois anos antes, e cujo elenco integrava Tony Curtis, Janet Leigh, David Farrar e Barbara Rush, entre outros. Nas três décadas seguintes recebeu algumas das maiores figuras nacionais da música ligeira e do fado, os principais filmes que as produtoras cinematográficas nacionais e estrangeiras foram realizando e muitas das melhores companhias de teatro portuguesas, tornando-se rapidamente num espaço cultural de referência na região. A esplanada, pertencente ao edifício, foi também durante muito tempo o local de eleição na animação de Verão da freguesia com os bailes de conjunto/grupos musicais, as festas populares e os torneios de futebol de salão.
Os tempos mudaram e talharam uma sociedade com novos hábitos de consumo e outros interesses, que o imóvel não acompanhou com os investimentos de modernização que precisaria. O encerramento do Cinema de Alvalade, nos finais dos anos oitenta, acabou por ser inevitável, situação que se mantém até aos dias de hoje. Depois de adquirido pela câmara municipal, recebeu obras e uma cobertura nova mas a valorização do cinema terminaria com esse investimento. Mais tarde, a autarquia santiaguense quis transformá-lo em centro cultural. Teve projecto e verbas previstas no orçamento municipal em vários mandatos mas a obra nunca sequer foi iniciada. A ideia do centro cultural seria mais tarde abandonada e hoje pouco ou nada se sabe sobre o futuro daquele edifício. Sendo parte importante e indissociável da memória colectiva alvaladense, é com um misto de nostalgia e tristeza que muitos de nós, hoje, olhamos para o estado de decadência em que se encontra aquele edifício, que completa 59 anos sobre a data da sua inauguração no próximo dia 29 e que tem condições excepcionais para ser um pólo importante de desenvolvimento social e cultural da freguesia.
_LPR
É com mágoa que recordo o Cinema Alvalade. O primo e amigo Antonio Eduardo apenas o explorou 2 anos. Por motivo de negócios teve de ir residir para Portimão. Como cinéfilo, sempre acompanhei de perto a actividade e fui em conjunto com o Francisco Guerreiro, tio do dono, quem seguiu com a gestão. Durante 15 anos exibimos centenas de bons filmes, seleccionados a gosto do público. Organizámos dezenas de espectáculos de Variedades musicais com os melhores artistas nacionais. Apresentámos também alguns Hipnotizadores e Mágicos em digressão pelo país. Concluindo, a ECA iniciou a fabricação em 1960, Alvalade recebia centenas de trabalhadores rurais e fabris, havia público, alegria, o dinheiro circulava e assim passei 15 dos melhores anos da Vida. Dizem que recordar é viver, mas também pode ser doloroso.
JRN