Moinhos e moagens

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2 Comentários

moinhodafontedepote2No decorrer dos séculos a arte de farinar o grão panificável passou por várias metamorfoses. Encontram-se ainda, por aqui, os trituradores da idade da pedra, a mola manuária, da idade dos metais e também a mola asinária – atafona – accionada por animais, geralmente burros – asinus. A invasão árabe trouxe-nos a utilização da força motriz hidráulica e do vento, introduzindo as azenhas, roda hidráulica e os moinhos de vento.

No perímetro da freguesia de Alvalade, ainda a mesma área que era na época medieval, há notícia e vestígios de azenhas no rio Sado em Gaspeia, no Monte Branco, na Algêda, na Gamita e na Gamitinha, os três últimos ainda existentes. E na ribeira de Campilhas, a azenha do Crujo na Boavista.

Moinhos de vento existiam na vila  no local aonde está hoje um pavilhão pertencente ao Posto de Culturas Regadas, o moinho do Paneiro, sobranceiro à fonte do Pote, o da Olhalva e outro no Monte Novo de Gaspeia. Em tempos idos, existiu nesta vila uma atafona, no local chamado “A Atafona” que era no sítio aonde está a casa de Manuel Joaquim Garcia. De tudo isto apenas restam as azenhas da Algêda.

Existem actualmente duas fábricas de moagem: uma na Estação de Ermidas e outra na Vila. A primeira pertence à Sociedade Industrial Alentejo e Sado, Lda. E é das mais importantes moagens do país. De instalações modelares adopta o sistema austro-húngaro, de que resultam farinhas de finíssima qualidade. Tem vários celeiros de grande capacidade. Além dos cilindros tem esta fábrica mós francesas para ramas e farinhas espoadas, tudo accionado por motor eléctrico. Ocupa largo espaço junto à Estação de Ermidas, nesta freguesia.

A fábrica de moagem da Vila foi fundada em 1913 por Francisco Mestre dos Santos mas a actual instalação data de 1925. Já depois, em 1936, sofreu grande remodelação. O edifício tem dois pavimentos. No superior estão os aparelhos de limpeza e preparação do cereal para ser moído. No inferior está a casa do motor, a dos moinhos e o escritório. Os moinhos são dois, com dois casais de mós francesas de 1,20m de diâmetro.

Accionada por um motor a gás pobre da marca “Fielding”de 35 H.P. que consome 70 quilos de carvão vegetal em oito horas de laboração, trabalhou antigamente com coque. Funcionando os dois moinhos tem uma capacidade de laboração de 325 quilos por hora. Emprega 5 homens: o moleiro e o ajudante do moleiro, o maquinista e o criado. O moleiro ganha 13$00 por dia e 10 quilos de farinha por semana (estamos em 1938) e o ajudante de moleiro recebe 6$00 por dia e 15 quilos de farinha por semana; o saqueiro, 9$00 por dia. O maquinista, além de 10$00 por dia, tem por semana 16 quilos de farinha e, o criado, 7$00 por dia e 15 quilos de farinha por semana. Separados da fábrica, há celeiros com capacidade para 400.000 quilos, tem depósito de venda de farinha, no Lousal. Nos anos de 1939 e 1949 moeu, respectivamente: 398.997 e 341.770 quilos. O fabrico e a cozedura do pão são feitos pela forma tradicional, utilizando os conhecidos fornos caseiros. Nos montes e em algumas casas particulares, é este o costume ainda seguido.

Na Vila há duas padarias, dotadas com fornos modernos e numa delas é também fabricado pão de luxo, levedado com fermentos químicos.

_Apontamentos históricos do Padre Jorge de Oliveira (1865/1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, para uma monografia que não chegou a publicar. 

2 Respostas a Moinhos e moagens

  1. José Raposo Nobre   6 de Novembro de 2014 at 15:48

    Obrigado Luis, por nos revelar os interessantes escritos do Padre Jorge de Oliveira.
    A moagem de Alvalade está ligada à minha família. O meu sogro, Manuel Joaquim Garcia, arrendou-a à família Fragoso em 1942, como o negócio era rentável em 1945 comprou, em sociedade com o cunhado, José João da Bica, incluindo os terrenos do Largo da República, onde hoje está o Crédito Agrícola e as moradias de m/cunhado Engº Garcia e Virginia Garcia Nobre, da D. Maria Rosa Biscaínho e de D. Mariana Bica. Porém, alguns anos depois, o negócio deixou de ser rentável, devido à instalação de industrias mais modernas, como a de Ermidas, a S.I.A.S.L. com as farinhas espoadas, preferidas pelas Padarias e pelos particulares, por não ser necessário peneirar.
    Acabou por encerrar definitivamente quando já era totalmente do Tio José João da Bica, porque, entretanto, a Sociedade foi dissolvida. Julgo com este esclarecimento dar continuidade aos escritos do Padre Jorge, sendo factos ocorridos após a sua morte.
    JRN

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  2. Matilde Oliveira   8 de Novembro de 2014 at 1:00

    Ainda bem que ainda há quem não deixe esquecer a história riquíssima de Alvalade.

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