A debulha

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4 Comentários

DebulhaA debulha das favas é feita à pata, isto é, com o pé dos animais que percorrem a eira, constantemente, em todas as direcções, até a semente estar separada da bainha. Quando tal sucede, é tudo levantado com forquilhas, ficando no solo da eira a semente e a moinha que é levada pelo vento após o padejo feito pelos homens, com pás de madeira. Desta forma, a semente cai a prumo e a moinha vai para o lado oposto ao vento. Junta-se a semente com vassouras de giesta, grossas, procedendo-se seguidamente à medição pelo decalitro – a deca – e depois o ensacamento. Ensacada, coloca-se a um dos lados da eira até que os carros venham para fazer a sua condução para o celeiro.

Hoje, usa-se muito o trilho que simplifica e abrevia bastante este trabalho. Compõe-se o trilho de três cilindros de madeira metidos num rectângulo de ferro, tendo cada cilindro várias carreiras de pequenas pás ou espátulas, também de ferro, que servem para triturar a palha das bainhas, com a sua constante rotação obtida pela tracção do animal ou parelha que o puxa. Sobre o trilho está montada uma cadeira sobre a qual o condutor vai guiando os animais que o puxam. Por esta forma se debulha também o trigo e outros cereais. Actualmente, com a divulgação das máquinas debulhadoras a vapor ou a gasóleo por meio de tractor, a debulha é feita com estes poderosos e rápidos instrumentos.

A palha das favas é aproveitada para alimento do gado muar e cavalar durante o Inverno. É enfardada como a do trigo, da aveia e do milho, com prensas braçais ou à máquina, e uma é conduzida aos palheiros em grandes redes armadas sobre os carros, outra é empilhada em grandes serras que são cobertas com bunho que as resguarda da acção das chuvas. É dali depois retirada para o consumo. O centeio é debulhado com manguais (malhos) ficando a palha inteira, servindo depois para colchoaria e albardeiros. O milho é também debulhado com os manguais, depois de descamisado e posto a secar na eira. Acabada a malha, é padejado ao vento que faz a limpeza.

Hoje há uns descaroladores mecânicos que por um movimento rotativo entregam o milho limpo. A palha das camisas ou maçarocas é muito usada para colchoaria, assim como a de aveia por ser fresca. As bandeiras das caneiras do milho são utilizadas como forragem para o gado vacum.

_Apontamentos históricos do Padre Jorge de Oliveira (1865-1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, para uma monografia que não chegou a publicar.

4 Respostas a A debulha

  1. José Raposo Nobre   12 de Fevereiro de 2014 at 16:01

    Os textos do Padre Jorge de Oliveira informam com rigor o que realmente acontecia, no m/caso, assisti a essas debulhas.
    É pena que não nos tivesse deixado em Livro tudo o que escreveu, como fez o Prof. Manuel João Silva, amigo já falecido, e que a Câmara editou Livros de “De contos e dizeres do Povo do concelho” em recolha que fez comigo, percorrendo muitos lugares do concelho quando organizámos os Cursos de Alfabetização de Adultos.
    JRN

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  2. Matilde Oliveira   12 de Fevereiro de 2014 at 16:33

    Bonita descrição de uma faina agricola de antigamente.

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  3. José António Falcão   12 de Fevereiro de 2014 at 22:27

    Louva-se o cuidado de Luís Pedro Ramos com a publicação periódica dos textos do P. Jorge de Oliveira. Oxalá possamos, um dia, lê-los em conjunto, reunidos num livro com o nível científico e gráfico adequado.

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  4. João Morais   26 de Maio de 2020 at 11:23

    É sempre bom ler estas coisas:um pequeno reparo (a moinha foge na direção do vento e não contra).
    Gostava de ter um trilho para trabalhar porque tenho animais de trabalho!

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