A debulha das favas é feita à pata, isto é, com o pé dos animais que percorrem a eira, constantemente, em todas as direcções, até a semente estar separada da bainha. Quando tal sucede, é tudo levantado com forquilhas, ficando no solo da eira a semente e a moinha que é levada pelo vento após o padejo feito pelos homens, com pás de madeira. Desta forma, a semente cai a prumo e a moinha vai para o lado oposto ao vento. Junta-se a semente com vassouras de giesta, grossas, procedendo-se seguidamente à medição pelo decalitro – a deca – e depois o ensacamento. Ensacada, coloca-se a um dos lados da eira até que os carros venham para fazer a sua condução para o celeiro.
Hoje, usa-se muito o trilho que simplifica e abrevia bastante este trabalho. Compõe-se o trilho de três cilindros de madeira metidos num rectângulo de ferro, tendo cada cilindro várias carreiras de pequenas pás ou espátulas, também de ferro, que servem para triturar a palha das bainhas, com a sua constante rotação obtida pela tracção do animal ou parelha que o puxa. Sobre o trilho está montada uma cadeira sobre a qual o condutor vai guiando os animais que o puxam. Por esta forma se debulha também o trigo e outros cereais. Actualmente, com a divulgação das máquinas debulhadoras a vapor ou a gasóleo por meio de tractor, a debulha é feita com estes poderosos e rápidos instrumentos.
A palha das favas é aproveitada para alimento do gado muar e cavalar durante o Inverno. É enfardada como a do trigo, da aveia e do milho, com prensas braçais ou à máquina, e uma é conduzida aos palheiros em grandes redes armadas sobre os carros, outra é empilhada em grandes serras que são cobertas com bunho que as resguarda da acção das chuvas. É dali depois retirada para o consumo. O centeio é debulhado com manguais (malhos) ficando a palha inteira, servindo depois para colchoaria e albardeiros. O milho é também debulhado com os manguais, depois de descamisado e posto a secar na eira. Acabada a malha, é padejado ao vento que faz a limpeza.
Hoje há uns descaroladores mecânicos que por um movimento rotativo entregam o milho limpo. A palha das camisas ou maçarocas é muito usada para colchoaria, assim como a de aveia por ser fresca. As bandeiras das caneiras do milho são utilizadas como forragem para o gado vacum.
_Apontamentos históricos do Padre Jorge de Oliveira (1865-1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, para uma monografia que não chegou a publicar.
Os textos do Padre Jorge de Oliveira informam com rigor o que realmente acontecia, no m/caso, assisti a essas debulhas.
É pena que não nos tivesse deixado em Livro tudo o que escreveu, como fez o Prof. Manuel João Silva, amigo já falecido, e que a Câmara editou Livros de “De contos e dizeres do Povo do concelho” em recolha que fez comigo, percorrendo muitos lugares do concelho quando organizámos os Cursos de Alfabetização de Adultos.
JRN
Bonita descrição de uma faina agricola de antigamente.
Louva-se o cuidado de Luís Pedro Ramos com a publicação periódica dos textos do P. Jorge de Oliveira. Oxalá possamos, um dia, lê-los em conjunto, reunidos num livro com o nível científico e gráfico adequado.
É sempre bom ler estas coisas:um pequeno reparo (a moinha foge na direção do vento e não contra).
Gostava de ter um trilho para trabalhar porque tenho animais de trabalho!