Alvalade já foi triste
Com muitas vidas azedas
Hoje é alegre e resiste
Como a ladeira do Quedas
Ladeira do Quedas onde
Eu brinquei quando menino
Ou jogando ao esconde-esconde
Ou então fazendo o pino
As moças do Cerradinho
Por ela é que iam à fonte
Com namoros no caminho
E um altar no horizonte
A meio da ladeira a guarda
Guarda a ladeira e a vila
O povo gosta da farda
E a ladeira não refila
Com a cancela fechada
Vinha o comboio a carvão
Tinha quatro carruagens
Todas cheias, e um vagão
Com gente rica em moedas
Que vinha em busca de praias
Mas na ladeira do Quedas
Os moços davam-lhe vaias
Quando o sol vinha em viagem
Por entre atalhos e veredas
Ninguem mostrava coragem
Para subir pelo Quedas
Ai as ladeiras da vida
Que eu já subi e desci
As ladeiras da descida
Foi as que mais eu sofri
Viva a ladeira do Quedas
Que sobe e desce ao avesso
Não tenho dobrões nem sedas
Mas do Quedas não me esqueço
admin
24 de Maio de 2011 em 11:13
O “alvalade.info” regista sentidamente e agradece ao poeta e escritor Alvaladense Eduardo Olímpio o envio, ontem, pela mão do próprio, deste poema dedicado à Ladeira do Quedas que hoje publicamos.
O caso de Eduardo Olímpio é apenas mais um, a somar a outros mais, de Alvaladenses com valor reconhecido que andam esquecidos pelas nossas gentes. Infelizmente. Apesar de ter tido homenagem pela Casa do Povo, há alguns anos, o escritor e poeta Eduardo Olímpio é um Alvaladense prestigiado, de mérito e valor reconhecido, que merece justificadamente mais divulgação e carinho da freguesia e do concelho.
_LPR
José Raposo Nobre
25 de Maio de 2011 em 16:04
Obrigado Eduardo, pelo teu belo poema dedicado à Ladeira
para onde vim viver aos 5 anos, onde também brinquei e onde
hoje vivo. Lembro-me do carrinho feito com uma caixa de sabão
vazia e rodas de ferro das charruas. Desciamos a ladeira, conduzindo
o carrinho, mas para cima era puxado por cordas.
Quando já adolescentes era uma “fineza” subir a ladeira de bicicleta. Poucos conseguiam, o piso era de terra batida e pedras, hoje com o
asfalto qualquer ciclista a sobe.
JRN
Eufrásia Veríssimo
26 de Maio de 2011 em 18:57
Olá Luís Ramos, Olá a todos
Não conheci o Sr. Eduardo Olímpio, mas dou-lhe os parabéns pelo poema e agradeço-lhe por me fazer lembrar desses lugares, onde também eu vivi.
O Quedas, (o Sr. Claudíno, que tinha sempre um sorriso e boas maneiras, quando eu lá ia comprar “alcagoitas”) recordo-o com saudade. A ladeira era o caminho que eu subia e descia, a correr, para chegar à minha casa que se situava junto à cancela.
admin
28 de Maio de 2011 em 8:46
Eduardo Olímpio está para Alvalade como Manuel da Fonseca está para Santiago do Cacém. Dois escritores naturais do concelho com obra reconhecida.
Mas enquanto em Santiago Manuel da Fonseca é constantemente homenageado e a sua obra recordada e divulgada, e deu o nome a uma biblioteca municipal e a uma escola, em Alvalade Eduardo Olímpio tem sido perfeitamente ignorado e nem sequer uma simples homenagem individual ainda teve, por exemplo com a atribuição do seu nome a uma rua da terra.
Em Santiago e no concelho quase toda a gente já ouviu falar e sabe quem foi Manuel da Fonseca.
No concelho, e especialmente em Alvalade, poucos sabem quem é Eduardo Olímpio e serão ainda menos os que já leram alguma obra dele.
Alvalade, infelizmente, é também isto…
_LPR
Maria João Madeira
29 de Maio de 2011 em 15:37
Ao consultar recentemente a página de internet da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, verifiquei que no atalho Concelho -> Personalidades apenas se encontravam 6 nomes:Manuel da Fonseca, António Chainho, Frei André da Veiga, Chöe Mac Millan, Ti Manel Zé do Tojal e Alda Guerreiro Machado. De imediato enviei um email para a Divisão de Comunicação, para fazer uma reclamação/sugestão… Referi que existiam no concelho mais do que aquelas 6 personalidades dignas de referência, dando como exemplo os nossos escritores Eduardo Olímpio, Domingos de Carvalho e Augusto Deodato Guerreiro. Soube que o email foi encaminhado para o departamento responsável pelos conteúdos do site e verifiquei agora que já foram acrescentados novos nomes a esta lista, na qual agora já constam os acima mencionados. Não se trata de qualquer forma de homenagem nem nada que se pareça, mas parece-me justo que sejam ali destacados estes e outros grandes nomes da nossa terra! Sugiro portanto que quem se recorde de alguém que ali deva ser mencionado faça a sugestão à Câmara Municipal… afinal de contas esta página da internet é uma espécie de cartão de visita de TODO o concelho.
admin
29 de Maio de 2011 em 17:30
Felicito a Maria João pela iniciativa. Exerceu um dos seus direitos de cidadania enquanto alvaladense defendendo um tratamento igual para as personalidades e escritores da nossa terra na página municipal comparativamente com outros do concelho.
_LPR
Céu Bougron
30 de Maio de 2011 em 22:18
Também não conheço o Sr. Olímpio mas adoro ler poesias sobretudo quando me fazem lembrar a minha terra, e a ladeira do Quedas foi um lugar que frequentei bastante pois morava ao lado. As recordações são muitas deste sitio. Corria para baixo para ir brincar com a minha amiga Eufrázia e vinha a correr para cima quando ouvia a minha mãe chamar-me.
Há uma recordação que ficou para sempre na minha memória…”as andorinhas” faziam ninhos na casa do Sr. Garcia e quando fecho os olhos e sonho ainda oiço o barulho que faziam…
Ainda não há muito tempo ouvi um fado em que a letra foi feita por este senhor. Adorei…Fui hoje ao Alentejo. Espero que este senhor seja homenegeado pelos Alvaladenses.
Até breve.
Carmo Candeias
8 de Junho de 2011 em 0:11
Este poema é lindissimo.
Acredito que essa ladeira tem algo de especial para todos os Alvaladenses, mais não seja uma ou outra recordação. É relembrada com saudade neste poema.
Parabéns Sr. Olímpio.
Carlos Nobre
1 de Julho de 2011 em 14:20
Eduardo Olímpio, para além de ser meu familiar é meu amigo. É um escritor incompreendido e logo marginal. A qualidade literária dos seus textos encontra-se bem patente na sua obra, principalmente nas crónicas e particularmente nos livros “Um Girassol Chamado Beatriz” ou “Às Cavalitas do Tempo”, que considero duas obras sublimes. Não é por acaso que existem excertos da sua prosa e poesia que integram muitos manuais e compilações de textos literários, ao lado de Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade, Manuel da Fonseca e tantos outros nomes bem conhecidos.
Espero que os alvaladenses ganhem alguma curiosidade que lhes provoque apetência para conhecer a obra dum nosso conterrâneo e amigo, que injustamente foi condenado ao esquecimento.
Um grande abraço, primo Eduardo.
Carlos
admin
1 de Julho de 2011 em 15:09
Absolutamente de acordo. Parte significativa da obra de Eduardo Olímpio insere-se, reconhecidamente, no neo-realismo português, que no concelho de Santiago encontra em Manuel da Fonseca o seu maior representante.
Como alvaladense gostaria muito de ver a obra de Eduardo Olímpio mais divulgada em Alvalade e o seu nome atribuído a uma rua de vila.
Homenagens sim, mas em vida. Não post mortem…
_LPR
José Raposo Nobre
2 de Julho de 2011 em 16:58
Volto a intervir no apoio ao poema do Eduardo Olimpio dedicado à ladeira onde ainda hoje vivo. “O Quedas”, taberna típica que foi de meu sogro, está agora a ser transformada em clube nocturno, graças a um grupo de jovens de Alvalade, a quem demos, como proprietarios, todas as facilidades para que o local tenha vida e seja ponto de encontro de jovens.
Sobre o Eduardo Olímpio para comunicar que acabo de receber, com dedicatória do autor, o seu último trabalho, “Enlouqueço Amanhã” que reune quase toda a sua poesia e prova o alto valor de um dos melhores poetas contemporâneos.
Na contra-capa estas frases: “Somos todos coisas pequenas. Nomes para esquecer”.
JRN
Maria Dores Amado
14 de Agosto de 2011 em 8:46
Amigo dos meus tios, Eduardo “Estelano” , foi sempre um nome referenciado na minha família. Depois de ter casado, soube que Eduardo era amigo dum tb grande escritor, critico literário e poeta, Armando Ventura Ferreira (irmão de m sogra).
Tenho em meu poder quatro livros que Eduardo autografou e ofereceu ao meu tio Armando. Tb o meu tio Domingos tinha os mesmos e q passo a citar. ÀS CAVALITAS DO TEMPO. De 1974…UM GIRASSOL CHAMADO BEATRIZ. De 1975, ANTÓNIO DOS OLHOS TRISTES de 1978, TERNURA de 1979.
Maria Dores Amado
14 de Agosto de 2011 em 8:53
No Diário Popular, BRANQUINHO DA FONSECA, escreve “Uma força poética tão grande e um tão profundo conhecimento da vida como muito raramente nos foi dado ver em páginas de novos ou de mestres consagrados”. Leia-se em contra capa de ANTÓNIO DOS OLHOS TRISTES.
Maria Dores Amado
14 de Agosto de 2011 em 8:57
Queridas Céu e Eufrásia…..Quantos vezes subimos.
Maria Dores Amado
14 de Agosto de 2011 em 9:06
…….subimos a ladeira que foi a primeira entrada de Alvalade em tempos mt longínquos …. E digo subimos pq a descer todos os santos ajudam….., mas tb naquele tempo nada nos custava…..nem o virar da esquina q o sr José Nobre dizia..”ninguém vira uma esquina mais rápido que a Dorinhas” ….Um forte e apertado abraço para todos aqueles que tiveram estas subidas e descidas nas ruas de Alvalade-Sado nesses tão doces anos sessenta….
Maria Dores Amado
14 de Agosto de 2011 em 11:23
Ainda acerca de Eduardo Olímpio, gostava de referenciar a sua comparticipação….nos poetas contemporâneos…….. na antologia “800 Anos de poesia Portuguesa” (círculo de leitores ….Outubro de 1973). a fls 470 a 472,tb Armando Ventura Ferreira a fls 343 a 346… EDUARDO OLÍMPIO nasceu em Alvalade-Sado em 1934.
Preciosa Sacramento Alves Agostinho
29 de Maio de 2015 em 18:29
Lindo, lindo o poema!
Li e reli.
Ninguém que tenha vivido em Alvalade, ou por Alvalade tenha passado, poderá não ter uma lembrança da Ladeira do Quedas.
Eram as mulheres que iam à água à bica. Eram as que iam lavar a roupa ao tanque.
E o Ti Zé Mansinho, com o seu carrinho de madeira levado à mão com 6 bilhas de barro encaixadas, ladeira abaixo, ladeira acima, fornecendo água às senhoras que não queriam subir e descer a ladeira.”Quartas d’ água” a cinco tostões cada uma… Já lá vão uns bons 60 anos…
Eram os passeios à bica pela Ladeira do Quedas, nas noites de Santo António!
Tantas lembranças, que nos aviva na memória o poema de Eduardo Olímpio …