Na manhã do dia 13 de Novembro de 1939, pelas 8 horas, já o ferrador António Duarte da Silva Telo, 22 anos, natural da Abela, deambulava inquieto pela rua da Cruz, relata o jornal “Diário de Notícias” à época. Os que o viram não estranharam a sua presença nem o comportamento já que era ali que habitualmente esperava e se encontrava com a namorada, Silvina dos Santos Ferreira, com 18 anos de idade, costureira, quando ela se dirigia para o trabalho na rua 23 de Agosto (Ladeira do Quedas). Um namoro marcado por vários desentendimentos, que a rapariga já teria rompido três vezes mas que nunca a teria levado a trocar o ferrador por outro homem. Nos últimos dias uma nova crise no relacionamento originou mais um rompimento e, desta vez, António Telo convenceu-se que tinha perdido a sua amada para sempre. Sentia-se o mais desgraçado dos homens e não podia sequer imaginar que tinha perdido a mulher que amava e o sonho de uma vida em comum. “E, na sua mente de alucinado, nasceu a resolução de pôr termo aos seus dias e aos da mulher que amava. Já que ele não podia ser feliz, Silvina não o seria também. Extinto o amor que os ligara, a mesma mortalha haveria de envolvê-los no epílogo trágico de uma história que começara em sorrisos e ia acabar em sangue“, relata o jornal. Pelas 8 horas da manhã, Silvina Ferreira surge na rua da Cruz com o ferrador a sair-lhe imediatamente ao caminho mas nada que fizesse a jovem alvaladense imaginar o que a esperava… Pensou que iria haver mais uma troca acesa de palavras ou uma tentativa de reconciliação, como já acontecera antes. Infelizmente, não seria assim. Relata o jornal que “(…) sem uma palavra e cego de ódio, António Duarte tomou-lhe o pescoço com o braço esquerdo, cintando-a a si, e, friamente, com uma impressionante crueldade, meteu-lhe 3 balas no crânio. A pobre rapariga caiu no chão como um farrapo ensanguentado sem um grito e sem uma queixa. O comerciante Vasco José da Silva, em frente de cuja casa se desenrolava o drama, acudiu a uma janela ao ruído das detonações. Ainda viu o criminoso voltar contra si o revolver e disparar num ouvido, caindo ao lado da sua vítima. Produziu-se grande alvoroço em toda a vila. António Duarte e Silvina Ferreira foram imediatamente levados para o consultório do Dr. Jaime Leitão, mas, apesar dos imediatos socorros, não foi possível salvá-los”. Silvina faleceu uma hora depois e o seu algoz hora e meia após o trágico episódio. A morte violenta e inesperada de Silvina Ferreira, uma das jovens mais bonitas da vila na época e muito estimada, consternou e marcou a comunidade alvaladense durante muitos anos e ainda hoje é lembrada, com grande tristeza, pelas gerações mais velhas.
_LPR
Agradecimento: à D. Mariana Lança pela referência bibliográfica.
Lembro-me perfeitamente deste episódio, embora tivesse cerca de 6 anos, que amiudadamente, era contado pelos meus pais e pelos meus irmaos mais velhos. Zé Carvalho.
nasci na rua da cruz n 24 mas é a primeira vez que ouvi falar neste caso nasci em 1943 quatro anos depois