Numa fase que veio a ser decisiva na guerra civil que opôs liberais e absolutistas (1832-34) e que colocou o país a ferro e fogo, D. António José de Sousa Manuel e Meneses Severim de Noronha, 7º Conde de Vila Flor, que então já detinha o título de 1º Duque da Terceira, assume a missão de desembarcar no Algarve com um contingente de 2500 homens, o que veio a suceder perto de Monte Gordo, no dia 24 de Junho de 1833. O objectivo era tentar uma manobra de diversão que pudesse fazer com que algumas tropas miguelistas fossem atraídas ao sul, abrindo assim outra frente de combate e dessa estratégia pudesse resultar algum alívio na forte pressão existente sobre o Porto, na altura cercado pelo exército realista. O Verão de 1833 estava a ser complicado para os liberais, e a situação pareceu, a dada altura, muito adversa. Divergências políticas entre as facções dos Duques de Palmela e Saldanha, deserções maciças, fome, cólera, revoltas, insubordinações e algumas hesitações nos apoios estrangeiros, resultavam num cenário que apontava para um desfecho pouco favorável aos liberais. As últimas esperanças de uma reviravolta na situação, estavam assim centradas no resultado desta missão.
Ao desembarcar no Algarve, o Duque da Terceira não encontra resistência e rápidamente tomou Faro e Olhão. Na mesma ocasião, a esquadra comandada pelo Almirante Charles Napier – um mercenário ao serviço da causa liberal -, que se deslocara do Porto igualmente para o sul, enfrenta a armada realista, derrotando-a com alguma facilidade perto do Cabo de S. Vicente e apodera-se da maior parte dos navios de guerra miguelistas. Conquistado o Algarve, que significaria o primeiro grande sucesso das hostes liberais, o Duque da Terceira decide-se por uma manobra arrojada e destemida, subindo pelo litoral com a sua coluna em direcção a Lisboa, apoiado ao longo da costa pela armada de Napier. Em poucos dias atravessa o Alentejo sem qualquer oposição digna de registo.
Depois de ter estado em Messejana a 17 de Julho, no dia seguinte a coluna é avistada às portas de Alvalade, por volta do meio dia. Atravessado o Sado, o contingente imobilizou-se nos olivais da Carrasca e de S. Sebastião. Pouco tempo depois, ao som dos clarins, o Duque da Terceira e parte do seu estado-maior entravam em Alvalade, pela rua das Areias (actual rua Duque da Terceira), escoltados por um esquadrão de cavalaria e uma força de Caçadores destacados da guarnição.
Em poucos minutos chegaram aos Paços do Concelho. O Duque e alguns oficiais subiram ao salão nobre, situado no primeiro andar, fizeram tocar os sinos da câmara exigindo a presença imediata da vereação camarária e das restantes autoridades locais, que rapidamente compareceram. O povo, expectante e receoso, juntou-se na praça D. Manuel I, em grande número. Não demorou que as autoridades administrativas alvaladenses renunciassem a fidelidade a D. Miguel, e aclamassem D. Maria II também como sua rainha, lavrando disso a acta respectiva. Naquele cenário e com as forças presentes, seria pouco aconselhável tentar esgrimir argumentos e defender posições, que pudessem, de alguma forma, justificar uma vontade política diferente dos poderes locais alvaladenses. A guerra civil era também um pouco isto…
Uma vez cumprida a missão e feita a vontade ao Duque, soam novamente os clarins e as tropas retiram da vila pela rua de Lisboa, retomando a marcha que só iria terminar na capital. Porém, em 30 de Agosto (mês e meio depois), a vereação volta a reunir, desta vez a pedido do corregedor interino da Comarca de Beja, Diogo José Vieira de Noronha, acompanhado do sargento-mor de ordenanças da mesma cidade, vindos propositadamente a Alvalade, de que resultaria a renúncia do auto declarativo de 18 de Julho, com a justificação de que só aclamaram D. Maria II porque a isso “(…) tinham sido obrigados por uma força rebelde que aqui passara”, e voltam a aclamar D. Miguel como seu rei legítimo. Contudo, a vitória militar dos Liberais na Guerra Civil de 1832-34 provocaria nova posição do concelho, e, em 11 de Julho de 1834, as instituições alvaladenses voltam a reconhecer e a aclamar a rainha D. Maria II, como sua soberana.
_LPR
Muito bem, Luis, por divulgar a interferência da nossa terra nas Guerras Liberais, mais uma prova que este concelho era importante. A completar esta prova também D. Miguel por aqui passou a caminho do exilio. Só é de lamentar que estes acontecimentos conduzissem à extinção do nosso concelho, quando a Paz voltou, após a derrota dos Miguelistas. E nunca mais recuperamos…
JRN