Alvalade de 1938

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Memoria fonte da bica (1938) (Alvalade)Actualmente (1938), a freguesia de Alvalade compõe-se de 3 agregados populacionais: A Vila, a Aldeia de Ermidas e a Estação de Ermidas. A Vila, bastante antiga, tem-se alargado muito devido ao desenvolvimento agrícola e, mais tarde, à abertura da linha férrea do Vale do Sado que facilitou a imigração de bastantes algarvios.

Em 1910, a Vila tinha as seguintes ruas, travessas e praças: Rua de Lisboa, da Cruz, da Estalagem, de S. Pedro, das Covas da Areia, da Figueira, do Adro e Rua Nova. Travessa da Igreja, do Espírito Santo, do Moinho, do Lagar, da Barroca, do Duque, Travessa da Misericórdia e Rua da Ladeira, que hoje se chama Rua de S. Sebastião, a Praça e o Largo da Feira. Junto à Vila havia, como hoje, o chamado Bairro da Fonte, por estar próximo da Fonte Branca. Era por ali o caminho para a fonte denominada ”A Bica”, junto à qual está o lavadouro público, tudo alimentado por um abundante manancial de boa água que nascia muito próximo.

Dista a Vila de Santiago de Cacém – sede do Concelho – 30 Km. Actualmente tem mais as ruas: Infante D. Henrique, Gonçalves Zarco, Vasco da Gama e Luís de Camões, formadas num quadrilátero aforado em 1911 por Joaquim Miguel Cabeça, proprietário aqui residente, para ali se fazerem novas construções.

Foi também alterada a nomenclatura de algumas ruas e praças: A Praça passou a denominar-se Praça D. Manuel I, que deu foral a esta Vila; a Rua da Estalagem passou a chamar-se Rua 31 de Maio, por estar ali uma casa onde o Infante D. Miguel pernoitou, na sua retirada para o exílio, após a Convenção de Évora-Monte – 31 de Maio de 1834. O Largo da Feira ficou sendo o Largo da República e a Travessa de S. Sebastião passou a ser chamada Rua Almirante Reis, homenagem às novas instituições. Há novos arruamentos na direcção Leste, seguindo a diretriz do ramal de acesso à estação ferroviária, facto vulgar em todas as povoações dotadas de estação a pequena distância. Este ramal de acesso foi construído em terreno, um já público, outro cedido gratuitamente por diversos proprietários confinantes, sendo o que mais terreno dispensou, a Viscondessa da Boavista, então residente em Beja. O único que recebeu dinheiro foi o proprietário da Ameira José Francisco d’Aires. O ramal, feito à pressa para ser inaugurado o 1º troço da Linha do Sado, em 1914, não foi entregue a qualquer corporação. Junto à estação havia uma nascente chamada Poça da Amoreira, que foi resguardada durante a construção da Estação, sendo, mais tarde, coberta e com a adaptação de uma bica, serve de grande utilidade aos vizinhos e abastece de água potável algumas estações ferroviárias.

O ramal de acesso foi empedrado com xisto vindo de pedreiras entre Torre Vã e Montenegro e como não tivesse iluminação alguma foram ali colocados 3 lampiões (1932): um próximo da estação, outro na curva e outro a igual distância, na direcção da Vila. Após a abertura da linha férrea, o proprietário Luís Serrano construiu, em terreno adquirido à Viscondessa da Boavista, uma casa de habitação com rés-do-chão e 1º andar tendo contíguo um armazém para deposição de mercadorias e cereais. O proprietário José Domingues Fernandes, dono da Daroeira, construiu do lado oposto um armazém para recolher os produtos da sua Herdade, o mesmo fazendo o proprietário Luís António da Paz Cunha Pereira, dono de Conqueiros, e do mesmo lado oposto.

Nota: A nomenclatura das novas ruas de Alvalade obedece ao critério seguinte: Rua Infante D. Henrique porque tendo sido ele o fundador da Escola Náutica de Sagres, a ele se devem os futuros descobrimentos. Rua Gonçalves Zarco, porque fizeram, pouco depois, a descoberta da Madeira e Porto Santo. Rua Vasco da Gama porque este grande navegador descobriu o caminho marítimo para a Índia. Rua Luís de Camões porque cantou em versos imortais as nossas glórias e feitos marítimos. Há, porém, uma outra circunstância que contribuiu para lhe ligar o nome a uma das nossas ruas: Em 1516 era Comendador de Alvalade, Cristóvão Correia. Sua filha, D. Filipa de Ataíde, casou em 1516 com D. Álvaro de Sousa, criado(?) da rainha D. Catarina, mulher de D. João III. Deste casamento nasceram vários filhos, entre estes, D. Catarina de Ataíde que Camões imortalizou com os seus versos dedicados a Natércia, anagrama de “Caterina”.

O aglomerado populacional da Estação de Ermidas é recente, pois não vai além de 1916, tendo começado pela construção da fábrica de moagem, sistema austro-húngaro, que ali tinha de manter o seu pessoal operário e de escritório. A via férrea e a estrada nacional de Sines à Fronteira, e mais tarde, o entroncamento do ramal de Sines foram os elementos que maior impulso e valorização lhe deram. Todo ele está situado em terreno da antiga Herdade do Cartaxo que era um matagal cerrado. A facilidade havida na aquisição do terreno e a abundância de água, facilitaram bastante a sua expansão. Predomina ali o elemento algarvio, explorador da indústria corticeira que aproveita a qualidade e quantidade abundante das cortiças da região. A moagem e o fabrico da cortiça, são as duas indústrias predominantes. Tem actualmente 100 fogos e 600 habitantes, regulares estabelecimentos, escola mista, sociedade recreativa, tendendo a desenvolver-se a ponto de já pensarem em organizar freguesia independente. A Aldeia de Ermidas data dos meados do século XVII. A sua índole é essencialmente agrícola, compondo-se de 95 fogos e 580 habitantes. Está situada próximo do ponto de confluência da Ribeira do Roxo com o Sado, numa planície arenosa, mas muito fértil e abundante em boa água. O seu casario é modesto e todo ele abarracado. Tem escola e dista cerca de um quilómetro da estrada nacional de Sines à Fronteira, estando a Junta Autónoma de Estradas a fazer um estudo para a construção de um ramal que, partindo da referida estrada e tocando na Aldeia de Ermidas, siga até Alvalade, grande aspiração de todos os que aqui vivem. Esta aldeia e os montes que lhe ficam próximos e ao norte, eram servidos e assistidos religiosamente pelo pároco da freguesia do Roxo, cuja igreja, sede de freguesia, distava pouco mais ou menos 2 quilómetros. Com a extinção da freguesia, ficou pertencendo a Alvalade. A sua população é alentejana. Deve ficar com a sua estação ferroviária quando for construído o ramal de Ermidas a Beja.

_ Apontamentos históricos do Padre Jorge de Oliveira (1865/1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, para uma monografia que não chegou a publicar.

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