A taipa foi, desde os primórdios, uma das principais tecnologias de construção usada em Alvalade, à semelhança do que aconteceu um pouco por todo o sul do país. Ao muçulmano invasor, deve-se, em boa parte, o mérito de ter desenvolvido e aplicado esta tecnologia nesta região. As fracas pluviosidades, a ausência de pedra, os reduzidos custos de construção e a existência abundante de terra com características adequadas, foram factores importantes para o desenvolvimento e disseminação da construção em taipa no Alentejo e Algarve, e, particularmente, também em Alvalade, desde o período islâmico. Genericamente esta tecnologia milenar consistia num sistema de cofragem através de taipais que se enchiam com barro, cuja argamassa era depois batida e compactada fortemente com maços, ao que se seguia um período de secagem. Através de blocos individuais, ou feita directamente na parede, as taipas eram assentes sobre fundações de pedra evitando assim o efeito corrosivo e destruidor que as humidades ascendentes produziam neste tipo de estruturas. Cada fiada era intercalada com uma camada de pequenas pedras e, no fim, o alvanel aplicava um reboco nas paredes com uma argamassa de cal e areia fina. A pintura a cal finalizava a construção, cuja cobertura era geralmente em telha vã.
Durante largos séculos foi através deste sistema construtivo que se levantaram a maioria das habitações e outras construções em Alvalade. Uma observação atenta no centro histórico e tradicional permite ainda identificar algumas dezenas de casas em que a taipa foi o principal material usado na sua edificação. No espaço periurbano subsistem igualmente alguns montes levantados com esta tecnologia, de onde se destacam pesados contrafortes, como suporte aos impulsos laterais motivados pelo peso dos telhados.
A construção em taipa estendeu-se também às igrejas e ermidas, como nos atestam as visitações da Ordem Militar de Santiago efectuadas em Alvalade no século XVI. Em 1510, os visitadores espatários, chefiados por D. Jorge de Lencastre, Mestre da Ordem de Santiago, no decurso da inspecção aos bens da comenda de Alvalade, verificam e registam o uso da taipa na construção das ermidas de S. Pedro, S. Roque e S. Sebastião. Nas igrejas de Santa Maria (actual igreja matriz de Alvalade) e de Nossa Senhora do Roxo, templos com capela-mor abobadada, existia uma solução construtiva mista: o corpo principal era de taipa mas as paredes da capela-mor, atendendo ao peso das abóbadas, em alvenaria de pedra e cal. O pequeno Hospital do Espírito Santo, de fundação medieval e também inspeccionado na mesma altura, era igualmente edificado em taipa.
O uso deste sistema de terra crua foi aplicado também em Alvalade na construção de outros edifícios, como por exemplo, os moinhos de vento. Ainda não há muito tempo, era possível observar, no termo da vila, as grossas paredes de taipa e cascalho nas ruínas do velho moinho da Fonte de Pote (na imagem), entretanto demolidas. A invenção do tijolo furado e do cimento, a sua industrialização e o desenvolvimento dos meios de transporte provocaram a marginalização da tecnologia construtiva em terra crua. Em Alvalade, a técnica de construção em taipa acabaria mesmo por ser abandonada na segunda metade do século passado.
_LPR
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