E Panoias bizarria
Garvão é terra de negros
Messejana, gravidade
Para falar com cortesia
Barrigotos de Alvalade
Esta sextilha era cantada nos bailes populares há 50 anos (actualmente mais de 100) e muitas vezes recitada em tom zombeteiro aos habitantes de Alvalade. Actualmente é pouco conhecida. Separa esta sextilha, cinco freguesias das quinze que compõem o Campo de Ourique e nelas põe um cunho que as distingue. Salienta as qualidades dos mancebos de S. Martinho das Amoreiras, nota a bizarria dos habitantes da Panoias, avulta a tez morena das gentes de Garvão, distingue o ar grave dos naturais de Messejana e põe em foco a cortesia dos barrigotos de Alvalade. Destaca-os pela cortesia mas chama-lhes barrigotos… Não irei explicar a cortesia antiga, porque não a conheci, nem a de hoje que pouca é.
O epíteto “Barrigotos” provém do seguinte: no final do século XIX e princípios do século XX, muitos habitantes de Alvalade tinham o ventre demasiado volumoso. As crianças eram notavelmente deformadas, ventrudas, e poucas escapavam. Diziam os médicos que o baço adquiria grande volume devido ao facto seguinte: junto à vila, pelo lado Norte, havia uma depressão grande no terreno e nela, um pego chamado “Pego Verde”, devido à sua vegetação constante de cor verde. Tinha várias nascentes, motivo porque nunca secava. Corriam para ali as águas que lavavam as ruas da vila, eram lançadas as dejecções e animais mortos, de modo que se convertia num terrível foco de infecção aonde proliferavam miríades de mosquitos que posteriormente transmitiam aos habitantes a malária com as suas piores manifestações e consequências. Só mais tarde, depois de dado o sinal de alarme, e de convencidos, se resolveram, os alvaladenses, a entulhar o pego, suprimindo assim a razão do seu barrigotismo…
_Apontamentos históricos do Padre Jorge de Oliveira (1865-1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, para uma monografia que não chegou a publicar.
Muito interessante. Obrigado. Gostei saber.