Esta freguesia é cortada por cursos de água em várias direcções. É atravessada pelo Sado em toda a sua extensão de N.E. a S.E., recebendo este, dentro da sua área, as águas das ribeiras do Carapetal, de Messejana, de Campilhas, do Roxo, de Figueira dos Cavaleiros e de Corona.
O Sado não é de corrente contínua. Durante a estiagem a água só se encontrava nos pegos. Estes eram bordejados geralmente por vegetação frondosa, o que permitia durante a estação calmosa, passar junto deles horas agradáveis. Hoje, são já poucos os pegos nestas condições. Apenas restam os de Conqueiros, da Retorta, Defesa e Torre Vã. A vegetação dos outros, que eram bastantes, foi vandalicamente destruída com o pretexto da limpeza que a poucos aproveitou.
Seria de grande proveito o repovoamento florestal das margens do Sado com as espécies mais úteis e adaptáveis, não esquecendo os vimeiros, as faias, as canas, ulmeiros, etc. Os proprietários marginais hesitam em fazer tais plantações porque dizendo-lhes as suas escrituras que a propriedade confina com a ribeira, têm por vezes sido incomodados quando ali pretendem exercer o direito de propriedade. Este conflito deveria terminar pela conveniente demarcação. A silvicultura nacional plantaria o que lhe coubesse e os particulares fariam outro tanto. Os guarda-rios serviriam para o caso.
Em tempos idos o Sado era, como os seus afluentes, muito piscoso. As espécies que ali ainda se encontram são: Bordalos, pardelhas e barbos. Raras vezes aparecem as eirozes. Há também moluscos bivalves, parecidos com os mexilhões, a que os pescadores chamam amêijoa, mas não se aproveitam. Os peixes são aqui perseguidos pelos cágados, pelas lontras e pelas cobrilhas. Dizem os pescadores que algumas vezes as raposas devoram o peixe colhido. As artes de pesca nesta região são: o tresmalho – rede comprida com bóias de cortiça de um lado e de outro e bóias de chumbo; o galrito – rede afunilada assente em aro de vime; a cana com linha e anzol. Para transpor os pegos mais fundos e para assentamento e fixação das redes, usam os pescadores uns pequenos barcos que movem e dirigem com uma vara. Chamam-lhes chatas ou bateiras e comportam apenas duas ou três pessoas. As artes de pesca são armadas ao pôr-do-sol e colhidas na manhã seguinte.
A pesca, em antigos tempos, era feita em toda a extensão do Sado e seus afluentes que a permitiam. Hoje, somente é feita a montante da confluência da Ribeira do Roxo, devido ao inquinamento das águas provenientes das lavagens do minério das minas de Aljustrel que não só matou a fauna da ribeira mas também a flora que a bordejava. As minas do Lousal que também despejam as suas águas no Sado, mais a jusante, tornam a pesca impossível por ausência completa de peixe até as proximidades de Alcácer do Sal, onde já é sensível a acção das marés. Os indivíduos que se dedicam a esta actividade da pesca colhem o bastante para se manterem com o produto da venda, pois o peixe é saboroso feito de caldeirada ou mesmo frito. Estes inquinamentos poderiam evitar-se ou corrigir-se usando alguns metros cúbicos de areia – e há por aí tanta! – que serviria de filtro. Segundo a tradição, a ribeira do Roxo era o flumen roseum dos Romanos, que se revestia de floração rósea – o loendro roseum – que lhe dava um formoso aspecto.
_Apontamentos históricos do Padre Jorge de Oliveira (1865/1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, para uma monografia que não chegou a publicar.
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