Factos acontecidos em Alvalade, entre pessoas conhecidas.
Na padaria:
Freguês: Venda-me um pão
Caixeiro: D’ois ?
Freguês: Não, quero só um.
Caixeiro: Mas d’ois ?
Freguês: Já lhe disse homem, que quero só um.
Caixeiro: Rijo ou mole ?
Freguês: Mole.
Caixeiro: Então é d’ois.
(ois = hoje)
Numa barraca de bebidas, na feira de Julho. Sentaram-se a uma mesa, separados por um copo de cerveja e uma chávena de café, dois lavradores muito conhecidos de todos. O criado deitava açúcar no café, e um deles dizia: “tem abondo; não gosto do café muito doce”. Voltando-se para o parceiro, diz-lhe com cara de caso: “Ó compadre, olhe que acontecem às vezes coisas do diabo. Esta noite fui para casa já um pouco tarde, pois seriam onze horas quando abali. Ao chegar à Defesa, senti uma grande estrampolida e assusti-me: Pari, olhi para trás e vi um burro”. O parceiro, pousando o copo e sentindo a cerveja já perto do estômago acode: “Pois amigo José o caso não é para menos. Numa idade dessas, já durázio, parir um burro, é caso sério…!”.
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Mestre Ramos, à porta da sua barbearia, vendo passar o seu vizinho, que é tido por «planeta», dispara-lhe: “Então vizinho João, o que nos diz ao tempo?” O vizinho João estacou, pôs o chapéu alto de aba larga sobre a nuca, espetou no céu os olhos astronómicos e respondeu com catadura magistral: “É meu opinião que amanhã temos água, se não for ainda esta noite. A ribeira já leva um bom corrente e temos cheia com certeza”. Mestre Ramos olhou para o cata-vento da torre (da Igreja Matriz) e riu-se.
_Apontamentos históricos do Padre Jorge de Oliveira (1865/1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, para uma monografia que não chegou a publicar.
Gostei de ler, são episódios muito engraçados com uma linguagem que ainda se usa muito em algumas zonas do alentejo.
Episódios dos nossos antepassados….muitas palavras q cairam em desuso são mt interessantes…
Lindo. Património que deve ser preservado, para isso tem que haver gente a colaborar. Obrigado Luis este assunto interessa-me, quero um dia fazer uma pesquisa e escrever algo sobre este tão rico vocabulário Alentejano. Beijinhos