O Baeta

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Rua S. Pedro (Alvalade)O meu vizinho, Diogo de Góis, é natural de Messejana, mas reside, há muitos anos, em Alvalade. É grande bairrista da sua terra. Conversando comigo acerca da última festa e procissão a que presido na qualidade de pároco, ele teceu-lhes grandes elogios não só pela ordem, aprumo e dignidade com que os seus comportamentos se apresentavam e executavam os seus cargos, mas também pela imponência e arte com que tudo se apresentava: “Bem vê“, retorqui, “que os actos do culto externo não poderão nunca atingir o seu fim, se não forem apresentados com dignidade, imponência e arte. Só assim se poderão impor ao espírito dos espectadores“.

É certo que isto somente se consegue à custa de grande trabalho. Primeiramente, organizava-se a planta do cortejo e dela se entregavam cópias aos guias. Tudo era, previamente, ensaiado e explicado, na igreja, de modo que, na rua, cada um ocupava conscientemente o seu lugar, e fazia-o com aprumo, porque via tudo, ao seu redor, afinado e posto com arte. Os guias somente se ocupavam de manter os alinhamentos. Era frequente espectadores que, num ponto, assistiam ao desfile do cortejo, correrem presunçosos, em busca de outro local aonde pudessem novamente repetir a sensação que os deslumbrara. “Que bonito que isto é. Quem lindo que isto vai“. E, ao recolherem à igreja, faziam-no com tristeza, porque era pequeno o trajecto, quando, na verdade, orçava pelos dois quilómetros. Por tudo isto, o vizinho Diogo de Góis, esse dizia que “nestas redondezas“, as melhores festas eram as de Alvalade. “Até os sinos, são os melhores que há, das freguesias ao redor de Alvalade“. São apenas três, mas consegui afiná-los de modo a poder variar as melodias, conforme o seu fim ou objectivo: missa, baptizados, funerais, etc. Mas, o vizinho Diogo, que é grande bairrista da sua Messejana, aproveitou o ensejo para me dizer coisas lindas, da sua terra. Em certa altura, perguntava-me:

– O Sr. Prior já viu o Baeta?

Não, não conheço esse sujeito! Vive em Messejana?

– Sim senhor. É um senhor de grande respeito.

– Mas onde reside ele?

– Mora na igreja.  É um senhor que tem umas barbas muito grandes, os cabelos caídos, com um vestido amarrado à cinta, por uma corda.

– E uma cruz muito grande às costas?

– Exactamente. Pois esse senhor, é conhecido de todos pelo Baeta.

Pois quem for a Messejana – Messejana gravidade, como diz a conhecida sextilha – quem quiser ver o Senhor dos Passos, deve perguntar pelo Baeta…

_Apontamentos históricos do Padre Jorge de Oliveira (1865-1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, para uma monografia que não chegou a publicar.

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