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Os mais idosos certamente ainda se lembram de ouvir falar nas célebres assombrações do Padre Bernardo, muito badaladas em Alvalade nos finais do século 19 e na primeira metade do século 20. Segundo a tradição oral, eram frequentes as aparições nocturnas do fantasma do Padre Bernardo (arrastando uma pesada corrente) junto do velho portão do quintal do Mira, na travessa do forno (entre as traseiras da sacristia da igreja matriz e a casa de Silvina Mestre) e nas colunas de cantaria da entrada de uma courela na várzea do Sado, em frente da vila. Embora já pouco falada, a história ainda hoje povoa a memória das gerações alvaladenses mais idosas…
O Padre Bernardo António de Sousa oficiou na paróquia de Alvalade entre 1830 e 1866 e mais tarde em 1883, e conquistou o respeito e a admiração da população. Foi este sacerdote que benzeu e inaugurou o cemitério público de Alvalade, em 1854. Era proprietário de um olival que confinava com a Fonte Branca, nas imediações da actual Fonte da Bica, e foi o último sacerdote a residir no “Priorado”, uma espécie de casa de função situada na aba direita da entrada do Bairro de Campilhas (ou Bardanado, como é popularmente conhecido), através da rua de S. Pedro.
Segundo a tradição oral e por razões desconhecidas, o avejão ou fantasma do Padre Bernardo começou a assombrar e a assustar a população alvaladense na última década do séc. 19 e perdurou até ao terceiro quartel do séc. 20. O Portão do Mira, em pleno vale do Sado e defronte para a vila, foi um dos locais mais assombrados e temidos pelas supostas aparições nocturnas do fantasma do Padre Bernardo, como atestam estes dois testemunhos: “(…) Lembro-me perfeitamente da história do fantasma do Padre Bernardo. Entre os meus 7 e 12 anos os meus pais viveram no Monte do Porto Beja. Eu já ia a festas e bailes com a minha irmã mais velha e outras raparigas lá do monte e era para mim um horror passar ao portão, que nessa altura ainda havia o portão, então eu ia para o lado direito da estrada para não passar ao pé do portão e toda eu tremia e só tranquilizava quando já ia longe” (Mariana Neves Belchior Maurício, 2014). “(…) Desde que vivo em Alvalade sempre ouvi aos mais antigos a lenda do Padre Bernardo que aparecia aos que passavam de noite junto ao antigo Portão do Mira, que ainda conheci. Nesses anos, de trabalho de sol a sol, era a medo e a correr que as mulheres tinham de passar naquele local e na estrada da várzea do Sado ainda de noite, se iam trabalhar nas mondas para Conqueiros ou para a Daroeira” (José Raposo Nobre, 2012).
A entrada e portão do Quintal do Mira (desparecido há cerca de 20 anos) e a travessa do forno, nas costas da igreja matriz, eram outros dos locais a evitar (e de fugir) a partir do anoitecer, altura em que vários habitantes asseguram ter visto o avejão do padre Bernardo (padre Mira, para alguns). Mais difusos e diluídos no tempo estão os relatos de outras supostas aparições deste fantasma na fonte da Bica arrastando uma pesada corrente, igualmente pela noite dentro…
Não temos notícias de que estes locais ainda estejam assombrados e sejam ‘visitados’ pela alma penada do sacerdote, que ficaria ‘famoso’ já depois da sua morte. Porém, a coluna que resta do Portão do Mira representa uma página importante da etnologia da freguesia e justifica plenamente a sua salvaguarda…
Sou uma barrigota fora de Alvalade e mais uma vez fico entusiasmada com este site . Vejo que ha imensa cultura na minha terra Vejo que as pessoas se interessam com a historia da nossa vila. Quando leio os vossos artigos tenho aprendido imenso mesmo se ha coisas que ja conhecia. Obrigado aos autores e espero que continuem pois podem crer dao uma alegria imensa aos que estao fora de casa
Notável texto, este. Não deixarei de o associar aos meus estudos sobre a etnologia do nosso concelho.
Muito interessante esta lenda. Parabéns por todo este trabalho de divulgação!
Gostei. O texto está muito bom. Para além do padre Bernardo também nos metiam medo em criança com a história da velha da corrente . Era uma maneira de nos controlar e de nos integrar na cultura existente.