No ”Dicionário Geográfico de Portugal”, compilado pelo Padre Luis Cardoso a partir de um inquérito nacional efectuado em 1758, António Almada Pereira, pároco de Alvalade na época, elaborou um documento precioso actualmente conservado no Instituto dos Arquivos Nacionais Torre do Tombo, com a cota I.A.N.T.T. – Dicionário Geográfico de Portugal, vol.3, mem.31, fl.259-262. Trata-se de um importante testemunho que nos dá a conhecer informações de grande interesse sobre Alvalade, três anos após o grande terramoto de 1 de Novembro de 1755. No relatório, o pároco começa por referir que Alvalade se situa na província do Alentejo, pertence ao Bispado de Évora e à Comarca do Campo de Ourique, tendo o concelho (de Alvalade) 690 habitantes.
Na continuação das respostas pedidas pelo inquérito, o Padre António Almada Pereira esclarece que a vila não tem conventos, não tem hospital “(…) e só uma casa que se hospedão os pobres administrada pella providência da Misericórdia. Tem casa da Misericórdia e se ignora a sua origem por mais diligência que se fez. Rende uns ou outros annos sincoenta mil réis”. Um rendimento modesto mas ainda assim importante na medida em que permitia “(…) socorrer a pobreza com o mais necessário”.
Sobre os estragos em Alvalade provocados pelo grande sismo de 1 de Novembro de 1755, o sacerdote informa que ”(…) a terra em si padeceo de ruína no terramoto, principalmente as igrejas”. A igreja matriz, que sofreu danos muito significativos, seria reparada após requerimento e pedido de ajuda do pároco local à Mesa da Consciência e Ordens (criada pelo rei D. João III em 1532), a que pertencia. As obras na igreja da Misericórdia e na ermida do Espírito Santo, igualmente com estragos importantes, correram por conta da Santa Casa alvaladense. A situação mais grave verificou-se na ermida de S. Sebastião (na imagem), situada no termo da vila, que o terramoto arrasou quase por completo. Os escassos meios da paróquia e do concelho alvaladense nunca permitiram a reabilitação integral da ermida e as suas ruínas acabaram demolidas e extintas na segunda metade do século 20. O pequeno acervo que possuía já tinha sido transferido e depositado na igreja matriz, que ainda conserva a imagem de S. Sebastião.
O casario da vila, que naquela altura se resumia ao actual centro histórico, foi igualmente muito fustigado pelo terramoto, com derrocadas em várias habitações particulares, na maioria construídas em taipa e com um só piso. Na praça D. Manuel I, o pelourinho manuelino caiu por terra, tendo perdido nessa altura os principais elementos decorativos que o caracterizavam e a base de degraus. Seria “reabilitado” algum tempo depois e colocado sobre um plinto na esquina dos antigos paços do concelho de Alvalade, onde se manteve até ao final da década de 50 do século passado.
_LPR
Interessante Luis… Obrigado por nos oferecer estes textos tão interessantes sobre Alvalade. Gostei imenso. Beijinhos
Todos estes ricos “escritos” engrandecem a história de Alvalade. Ainda bem que hoje conseguimos saber, por eles, o que os nossos avós viveram em tempos idos…