Os frescos agora descobertos na antiga igreja da Misericórdia não serão os únicos em Alvalade. A mesma técnica que agora identificou a pintura mural a fresco na Misericórdia já antes tinha restaurado a decoração a fresco da abóbada da igreja matriz (na imagem), há mais de uma década atrás. Nessa altura, assegura, localizou também um fresco por baixo da actual decoração da abóbada, que continuará lá.
Porém, as informações mais concretas sobre os frescos da matriz são fornecidas pelo texto da visitação da Ordem de Santiago à Comenda de Alvalade, em 1510, dirigida pessoalmente por D. Jorge de Lencastre, Mestre da Ordem, que se fez acompanhar por D. João de Braga, Prior-mor e segunda dignidade da hierarquia dos espatários, e por Francisco Barradas, seu chanceler. Em Novembro de 1510, 3 meses após a outorga do foral a Alvalade por D. Manuel I, a equipa inspectora da Ordem de Santiago identificou e registou vários frescos na actual igreja de Nossa Senhora da Conceição da Oliveira, concretamente no altar secundário do lado da Epístola onde existiam e se destacavam três imagens: uma Santa Catarina, um São Francisco e um Santo António.
Por outro lado, um provimento de D. Jorge, datado de 4 de Novembro de 1524, ordena que no baptistério se pinte “(…) na parede o bautismo de Nosso Senhor asy como o vira pintado em semelhantes capelas com Sam Joham e o Espiritu Samto segundo se pinta nas outras igrejas o decto bautismo“, ordem que foi cumprida e confirmada pela visitação de 1533, tendo sido ainda acrescentado um outro fresco, em data indeterminada, concretamente uma imagem de S. Sebastião, na parede oriental do mesmo baptistério.
Se a igreja da Misericórdia foi construída/concluída em 1570, a fazer fé na inscrição existente por cima do portal, os frescos da igreja matriz serão ainda mais antigos. Se é que ainda existem, uma vez que boa parte das paredes interiores do templo têm sido fortemente adulteradas com rebocos cimentícios ao longo das últimas décadas. Mas isso só um trabalho apurado de prospecção, à semelhança do que foi agora feito na Misericórdia, poderá confirmar. Evidentemente que a confirmação da existência destes frescos e o respectivo resgate, seria mais um elemento de acrescido valor cultural para o património histórico alvaladense, com reflexos também no aproveitamento turístico da matriz alvaladense em conjunto com os frescos da antiga igreja da Misericórdia.
_LPR
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