A coluna rodeada e “protegida” de silvas e mato (na fotografia) é o que resta do portão do Mira, em pleno vale do Sado, defronte para a vila.
Até há meia dúzia de anos ainda era possível encontrar também a segunda coluna e a ferragem de suporte do portão, muito badalado desde os finais do século XIX até meados do século passado.
Segundo a tradição oral, o local ficou conhecido pelas supostas aparições nocturnas do fantasma do Padre Bernardo, sacerdote que conquistou o respeito da população entre 1830 e 1866, período em que oficiou na paróquia de Alvalade.
Não sabemos se o local ainda é assombrado e “visitado” pelo sacerdote que ficaria famoso já depois da sua morte, mas a coluna que resta do portão do Mira representa uma página das memórias sociais da freguesia e uma marca cultural da paisagem alvaladense que importa preservar e defender. Enquanto o denso silvado que a envolveu lhe der protecção, parece estar a salvo…
Também a salvo estariam estas pequenas estórias, entre lendas e tradições, através de um pequeno projecto de recolha e registo, por exemplo pelo Agrupamento de Escolas de Alvalade, no âmbito de um plano mais largo de educação para o património e preservação da memória colectiva da freguesia.
_LPR
Artigo relacionado: O fantasma do Padre Bernardo
Desde os quase 80 anos que vivo em Alvalade sempre ouvi, aos mais antigos, a lenda do Padre Bernardo que aparecia aos que passavam
de noite junto aos antigos Portões do Mira, que ainda conheci (os portões).
Nesses anos para trabalharem de sol a sol, nas mondas, as mulheres
tinham de passar naquela estrada da Várzea ainda de noite, se iam
trabalhar para Conqueiros ou para a Daroeira.
Só depois da construção da Ponte dos Arcos não passavam, mas as lendas não esquecem…
JRN
Muito obrigado Sr. Nobre pela sua achega. O seu testemunho é sempre importante e valoriza as memórias e o passado fecundo desta terra.
_LPR
Interessante esta “estória” e concordo que se deveriam preservar estas memórias fisícas, mas também as virtuais.
Hoje em dia não é complicado…qualquer telemóvel ou câmara fotográfica, se quisermos coisas simples, grava (com som e imagem) essas memórias virtuais, que morrendo quem as tem, desaparecem para sempre.
A história de uma terra faz-se também com estes aspectos da cultura popular que não se podem deixar perder, mas se deixarem destruir o vestígio que ainda existe do portão só ficam os relatos dos mais velhos que um dia também vão desaparecer. J. Severino
Acerca do nome Mira, creio ser um sr. que era de Azinheira dos Barros e que era proprietário desse terreno, onde era o quintal do Mira, habitado por várias famílias…
Vou tentar saber alguma coisa mais sobre esse nome……Em Azinheira dos Barros ou Bairros havia uns sr’s Mira.
Tem-se falado aqui muito do Quintal do Mira e dos portões do Mira, mas afinal quem era este Mira?
As informações que consegui apontam no mesmo sentido da Dª Maria Dores Amado. Ou seja, este tal Mira era um indíviduo muito abastado que era proprietário de várias courelas e imóveis na vila, natural da Azinheira dos Barros.
O nome foi ficando e os herdeiros aos poucos foram vendendo o seu património. Penso que o Sr. Mira já não foi conhecido pelos alvaladenses ainda vivos e mais idosos. Pelo menos até agora ainda não encontrei ninguém que o tivesse conhecido.
_LPR
Voltando aos portões do Mira e Quintal do Mira, também proprietários do Lagar junto ao chafariz da Bica, tive conhecimento de que essas propriedades pertenciam a uma família de Azinheira de Barros, de apelido Do Ó, que também tinham uma Loja onde esteve empregado o Joaquim Sabino Guerreiro, um dos fundadores da Sanagro, residente aqui em Alvalade.
Será que poderá saber algo mais?
JRN
Muito obrigado pelas achegas, Sr. Nobre.
Vão ao encontro das informações que me têm chegado.
Sempre ouvimos falar do Mira, mas pouco se sabia sobre quem era e os motivos do seu nome na toponímia local.
_LPR
…tanta coisa para explorar nesta vila, que um dia perdeu a força para lutar pelo seu património, não é muito? O que interessa? É VOSSO!!!!
Sim em Azinheira dos Barros, sempre existiu a familia Mira.
São proprietários de diversos terrenos, a D. Antónia Mira do Ó e o Sr. Armando Mira do Ó, têm o seu nome em ruas de Azinheira dos Barros.
OS filhos do Sr. Armando, ainda nos visitam regularmente.
Muito obrigado D. Lina. As suas achegas vêm ao encontro das informações que já tinha recolhido. O seu endereço de email que deixou diz-me que pertence ou é funcionária da Junta de Freguesia de Azinheira dos Barros, o que reforça a credibilidade das suas informações.
Está assim desvendado o “mistério” sobre quem seria o Sr. Mira que deixou o seu nome em Alvalade ligado a vários espaços, mas sobre o qual existia pouca informação.
_LPR
A importante informação da D. Lina coincide com a minha de 16-1, sobre a origem da família “Mira” em Azinheira de Barros, também conhecidos do Ó.
O deputado do PSD, Dr. Pedro do Ó, creio que pertence a essa família.
JRN
O falecido sr. Armando Mira do Ó era o marido da minha madrinha de baptismo, pois fui baptizada na igreja de Az. Dos Barros. Em 1970 foi meu padrinho de casamento e sua esposa, tb já falecida, voltou a ser m madrinha, na Igreja de S. João de Brito em LIsboa. Nunca conheci o pai do meu padrinho, só a mãe, em cuja casa brincava com a neta ” Luzita”. A avó materna residia no inicio da aldeia. Em Alvalade tb o sr. Mira era o porprietário do lagar.
Lembro-me muito bem de em Az. dos Barros ir à loja onde estava empregado o sr. J. Sabino Guerreiro, mas não sei quem era o proprietário. Era uma loja com tecidos, linhas, rendinhas, etc, etc…
Ainda quanto aos meus padrinhos creio que eles eram primos.
Os avós maternos da Luzita e do António Armando eram os srs Mira e os paternos seriam Mira do Ó, proprietários do Monte Branco onde havia uma coutada com inúmeros coelhos bravos. Todos os anos em Julho, nesse Monte, se fazia a cresta das colmeias. Havia um grande centrifugador e do mel nem se fala…..litros e litros para muitas encomendas…
O nome do presumível primeiro proprietário do quintal do Mira era o sr. Francisco Mira Pinheiro. Nos anos sessenta e primeiro ano de setenta foi o meu falecido pai que recebeu as “rendas” dos habitantes das casas desse quintal e que depois entregava ao proprietário, nessas datas sr. Armando Mira do Ó. Não se sabe quantas gerações atrás esse e outros prédios urbanos ou rústicos terão sido aforados, ou tomados por aforamento, segundo as regras das Ordenações Manuelinas. Prazos de aforamento de 99 anos. Junto aos alicerces da fábrica das peles, estas no terreno dos herdeiros da D. Augusta Aires, havia um terreno do mesmo proprietário sr. Mira que foi adquirido pelo sr. Barrancos.
O sr. Barrancos terá decerto a escritura que menciona o nome do vendedor. Talvez tb no mesmo processo exista a fotocÓpia do B.I. do vendedor onde menciona a paternidade do mesmo.
É sempre interessante conhecer a origem destes topónimos de Alvalade. Com a vossa informação e achegas, fica deslindado o “mistério” sobre o Mira, e as razões porque este nome está associado a vários espaços alvaladenses.
Muito obrigado a todos pelos vossos contributos.
_LPR
Fiquei muito contente por saber uma parte da história da minha familia paterna.
Sou bisneta da Cecilia Mira, resido em Azinheira dos Barros onde também ainda residem outros bisnetos, trisnetos e também uma neta. Deste lado da familia não se adoptou o nome Mira, nunca percebi qual a razão, enfim gostei de saber um pouco mais sobre as minhas raizes. O meu muito obrigada a todos.
Como resido em Alvalade há quase 80 anos, ainda conheci os portões do Mira numa courela perto da atual Ponte sobre o Sado, na antiga Estrada que servia de acesso à vila, hoje completamente destruidos. De nome Mira também existiu um Lagar de Azeite e um Quintal, no interior, com várias pequenas habitações, hoje de outros proprietários, no local chamado Atrás dos Quintais, perto do Cerro do Moinho, onde ainda está o edificio que serviu de escritórios da Estação de Culturas Regadas e residência dos Diretores.Terminando informo que a família Mira era muito conceituada nesta vila pelo que desde criança tenho conhecimento, pelo que se deve orgulhar dos seus antepassados.
Os meus cumprimentos.
JRN