A construção da linha férrea e da estação dos comboios, em 1914, acentuou a necessidade de melhores acessibilidades rodoviárias na freguesia de Alvalade. Sobretudo para tirar partido dos caminhos de ferro, e por essa via escoarem-se as abundantes produções agrícolas locais. Estradas mas também pontes onde fosse necessário transpor o rio Sado e a ribeira de Campilhas. O Padre Jorge de Oliveira, num artigo publicado no “Álbum Alentejano”, datado de Maio de 1937, faz eco dessas assimetrias e dá voz aos anseios da população alvaladense, num contexto político nacional que desaconselhava qualquer forma de manifestação pública de insatisfação…
“(…) o movimento da estação de Alvalade é relativamente pequeno por lhe faltarem estradas de acesso. Seria o natural embarcadouro dos produtos agrícolas do centro e sul da freguesia, assim como da parte oeste da de Aljustrel e de todo o campo sueste da vizinha freguesia de S. Domingos, se, ao menos, pudessem ser utilizados os caminhos, que, em outras partes suprem as estradas. É dificílimo, no Verão, atravessar areais fundíssimos, e impossível, no Inverno, transpor ribeiras caudalosas, que não têm ponte. Assim, só os produtos ricos conseguem deslocar-se até ao ponto de embarque. Todos os anos, na época invernal, se repete a tragédia do cadáver insepulto, durante alguns dias, os socorros clínicos prestados tardiamente, a impossibilidade de reunir o conselho de família, o casamento adiado, a paralisação do trabalho, isto e muito mais, porque as ribeiras não deram passagem. E, quando pensamos em que o segredo do desenvolvimento de tanta força, em estado latente, está em uma ou duas dezenas de quilómetros de estradas por concluir, temos sincero pesar de não sabermos onde está o ponto de apoio, para lhe fixarmos a alavanca… Em 1908, elementos preponderantes dos Distrito de Beja e daqui, conseguiram a construção de um troço de estrada de Alcaria, Aljustrel a Alvalade que ficou encantada nos Milhouros. Tendo, há uns anos, este troço sido incorporado na estrada nacional de 2ª classe, nº 93 – Tróia a Aljustrel -, por Alvalade, em grande parte já construída, e cônscios de que da sua conclusão dependia o desenvolvimento e aproveitamento de tanta riqueza perdida, procurámos saber por que motivo se não atendiam as justas reclamações da freguesia. Foi-nos dito que o grande obstáculo seria a ponte do Sado. Conjugada a boa vontade de bons amigos, obteve-se toda a ferragem para a ponte, que admite um leito de cimento armado; mas, lá está, há anos, a apodrecer à beira do Sado, esperando que mão caridosa a levante. E, se a nossa Junta Providencial lhe acudisse? É certo que o requerimento não leva o selo legal, mas seria fácil o atestado de indigência”.
Em 1930, em pleno Estado Novo, já o distinto sacerdote alvaladense tinha, corajosamente, classificado a situação de intolerável num artigo publicado no jornal “28 de Maio”. As reclamações e os esforços da população, que reuniu, graciosamente, a ferragem necessária para levantar a tão desejada ponte sobre o Sado, viriam a dar frutos apenas em Dezembro de 1949, ano em que foram iniciadas as obras de construção da ponte dos Arcos e numa altura em que já existia ligação rodoviária com Ermidas-Sado e tinha sido inaugurada a ponte sobre a ribeira do Roxo, no Faial. Concluída em 1952, e recentemente com obras de conservação de vulto, tenazmente reivindicadas pela população e instituições, a ponte dos Arcos tem sido ao longo do tempo não apenas um equipamento de importância vital para a freguesia mas também um símbolo de coragem, de persistência e de luta dos alvaladenses na defesa dos interesses de Alvalade, e um exemplo que podia ser transportado para outras áreas e carências locais.
_LPR
Artigo relacionado: Ponte dos Arcos – património destacado de Alvalade
Sem duvida alguma um trabalho notável deste pároco, e que ajudou em muito o desenvolvimento de Alvalade, fazendo uma ligação terrestre/ferroviária. Pena que nos dias de hoje se tente destruir essa mesma ligação, com a supressão da rede ferroviária em Alvalade. Não sei se seria pedir muito que um dos comboios que passam na nossa estação, e são 3 para Norte e 3 para Sul, fizesse uma única paragem, tanto para Norte como para Sul. Não vejo nenhum prejuízo para a empresa que explora os ditos transportes, e iria aliviar muitas famílias, de certeza.
Um pedido que a autarquia devia fazer junto de quem gere esta via.
Quanto ao texto acima, uma palavra: Extraordinário.
Perfeitamente de acordo, Jorge. A perda do serviço de comboios prejudica e desvaloriza a nossa terra. LPR