Provavelmente de origem romana, recebeu obras de vulto no século XVI. É um dos monumentos mais interessantes de Alvalade e esteve durante muito tempo inserida numa via muito importante que estabelecia a ligação entre Miróbriga e Pax Iulia (Beja) com passagem por Vipasca (Aljustrel). Permitia a passagem sobre o antigo leito da Ribeira de Campilhas, que foi alterado na primeira metade do século XX, altura em que perdeu a sua função primitiva. Foi classificada como Monumento de Interesse Concelhio em 2004.
_LPR
A Ponte Romana! Local de “passagem” (por perto…) no meu caminho para a escola, nos meus tempos de menina.
Por essa altura a Ponte Romana era para mim um local fascinante.
Aos meus olhos de criança, achava-a uma ponte enorme e, imaginava que por lá tivessem passado belos cavaleiros, principes e princesas, reis e seus vassalos, escravos, comerciantes e gentes do povo, que me faziam sonhar imaginando-me protagonista de épocas passadas.
Do monte do Contador onde morava, para ir à escola, (Alvalade), passava muitas vezes pela Ponte Romana.
Só podia fazer aquele percurso pela “estrada” (caminho de terra batida), quando estava bom tempo. Fora isso havia muita lama, motivado ou pelas chuvas ou mesmo pelas cheias. Então tinha mesmo de ir pela linha do caminho de ferro. Caminho com mais visibilidade por onde minha querida mãe queria que eu fosse, para me ficar observando lá do monte do Contador.
Ainda hoje, a Ponte Romana e aquele caminho, nas minhas recordações me fascina!… E também aqueles campos, naquela época, ora searas de trigo, ora restolho, ora favais, em parte campos de luzerna e também campos de canteiros de arroz.
E muitas vezes, nos invernos mais rigorosos, todo o espaço alagado pelas cheias, parecendo um imenso lago.
E o comboio passando, deixando um rasto de fumo cinzento e o cheiro de carvão de pedra queimado, que os antigos diziam fazer bem à tosse.
Ás vezes, os rebanhos de ovelhas e cabras, do Senhor Ilídio, pastando no pasto. Ou os rebanhos de vacas do Zé Mateus, pastando junto à ribeira até à ponte de ferro, que ficavam também pastando nas noites de luar, fazendo ouvir os seus chocalhos noite fora e transmitindo uma sensação de paz e tranquilidade.
É o cenário que preenche uma boa parte das minhas recordações.
Aqueles campos, a Ponte Romana a Ribeira de Campilhas, O monte da Ameira lá em cima na ribanceira, a Ponte de Ferro, os rebanhos pastando nos campos perto da minha casa. O trinado das andorinhas nos beirais do meu telhado. O canto dos pintassilgos, os frutos maduros das árvores do meu quintal, e toda a Natureza à minha volta, renovando-se todos os dias!
Preciosa (a do Contador)
Olá Preciosa,
Antes de mais felicito-a pelo seu excelente texto, que nos permite entrar pela sua vida, e nos locais que são um pouco de todos nós e que percorremos ao longo dos anos enquanto alvaladenses. Fala-nos do contador…não o queira revisitar para não ter um choque. Ainda se mantém de pé, mas rodeado de mato, silvas e lixo. Todos os anos vou lá e é com muita pena que o vejo quase numa ruína. É mais um caso de património alvaladense abandonado.
Na Ponte Romana, ou de origem romana porque terá sido muito modificada ao longo dos séculos, seguramente que por lá passaram pessoas de todas as classes sociais como o seu imaginário lhe sugere, sendo que o último grande ilustre “utente” do imóvel terá sido o Rei D. Miguel I e a sua comitiva, no seu percurso para Sines, onde embarcou para o exílio. Aquele caminho e aquela ponte, são uma página muito importante da História da freguesia.
_LPR
Olá Preciosa amiga,
Também me lembro muito bem ainda daquela paisagem….por vezes íamos passear ao canal e atravessavamos p ver melhor a ponte de ferro e aquele grande lago de águas muito esverdeadas que ficava precisamente por baixo da ponte …o pego. Disseram-me nessa ocasião que naquelas águas havia muitos mosquitos e que há muitos anos teriam sido os causadores de doenças nas crianças que ficavam com o ventre dilatado e daí ter surgido o nome de barrigotos…Barrigotos de Alvalade.
Olá Dorinhas amiga,
Debaixo daquela ponte não passavam águas, O curso das águas da Ribeira de Campilhas já há muito tinha sido desviado.
Eu nunca conheci água a passar por baixo da Ponte Romana, a não ser quando havia grandes cheias no inverno e o leito da ribeira transbordava.
Nunca águas estagnadas..
Os mosquitos responsáveis pelo nome dos barrigotos de Alvalade, não devem ter andado por ali, mas sim em águas estagnadas ou sujas em qualquer outro local.
Olá Dorinhas,
Voltando ainda ao assunto dos Barrigotos,vê o apontamente do Padre Jorge que o Dr. Luis Ramos, publicou o ano passado em: alvalade.info.
– ” O epíteto “Barrigotos” provém do seguinte: no final do século XIX e princípios do século XX, muitos habitantes de Alvalade tinham o ventre demasiado volumoso. As crianças eram notavelmente deformadas, ventrudas, e poucas escapavam. Diziam os médicos que o baço adquiria grande volume devido ao facto seguinte: junto à vila, pelo lado Norte, havia uma depressão grande no terreno e nela, um pego chamado “Pego Verde”, devido à sua vegetação constante de cor verde. Tinha várias nascentes, motivo porque nunca secava. Corriam para ali as águas que lavavam as ruas da vila, eram lançadas as dejecções e animais mortos, de modo que se convertia num terrível foco de infecção aonde proliferavam miríades de mosquitos que posteriormente transmitiam aos habitantes a malária com as suas piores manifestações e consequências. Só mais tarde, depois de dado o sinal de alarme, e de convencidos, se resolveram, os alvaladenses, a entulhar o pego, suprimindo assim a razão do seu barrigotismo…
_Apontamentos do Padre Jorge de Oliveira (1865-1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, para uma monografia que não chegou a publicar.
Não era na ponte romana, era ali perto do canal, havia um pego enorme. Talvez surgisse depois das chuvas ou de nascentes, mas a norte do canal. Obrigada pelo artigo. Grande sr q residiu em Alvalade e nos deixou esses documentos….bjis.
Disse-me ontem a minha tia.
“Santa Luzia dos olhos…..Garvão dos negros….Messejana gravidade….P’ra falar com cortesia….Barrigotos de Alvalade….. Esta minha tia é Alvaladense. Morava na casa ao lado do portão, onde é hoje a casa do padre. É a mãe do Mário de Carvalho.
É uma linda ponte que só conheci há poucos anos e nunca tinha visto nenhuma parecida. E a vista de lá para Alvalade é magnifica.