Durante muito tempo, foi uma das melhores casas comerciais de Alvalade, no século passado. Conheci-a como a “Papelaria Bica” e ainda guardo um artigo lá comprado, que recebi como prenda de um aniversário.
A fotografia mostra um estabelecimento comercial moderno e com uma boa apresentação exterior para a época, que tinha a representação de marcas prestigiadas como a Kodak, Singer, entre outras.
O edifício de dois pisos que acolheu, até há bem pouco tempo, o café “O Pelourinho”, nasceu da demolição do imóvel onde esteve a “Papelaria Bica”, em plena rua de S. Pedro, uma das mais antigas e frequentadas artérias da vila e desde sempre ponto de passagem obrigatório das procissões e arruadas festivas de Alvalade.
_LPR
Dou mais uma informaçao sobre a Papelaria Bica. Foi durante muitos anos a melhor Loja de Fazendas da Vila, além do proprietário, Francisco Mendes da Bica,trabalhavam dois empregados, Arménio Gonçalves Damásio, que abriu nova loja no Largo dos Cafés, e Augusto Protásio, depois Agente comercial em Lisboa, todos já falecidos, o Arménio em Luanda, o Protásio, há cerca de 2 anos. Foi após a morte do Francisco M. Bica que os filhos fundaram no mesmo local a Papelaria Bica. Eram o José da Paz Bica e o Joaquim Maria Bica, ambos já falecidos, esteve empregado o Zé Garcia. Não durou muito tempo. Ambos foram viver para Setubal. Abriu a Papelaria Nobre que passou a representar a Philips, Kodak e outras marcas.
Quero concluir com um facto que recordo, no tempo, anos 30/40 eram raros os rádios, todos a baterias, eu e os irmãos Bica iamos para a loja ouvir os relatos dos jogos de futebol, as lojas encerravam nas segundas-feiras todos, incluindo os de casa, eram sportinguistas, no tempo faziam o resumo da 1ª parte e o relato completo da 2ª parte.
O locutor Quadrios Raposo, só muito mais tarde apareceram Artur Agostinho e tantos outros. Nesse tempo o Sporting ganhava quase sempre, eram os 5 violinos, que depois foram 6 com a ida de Martins, um Siniense, de quem fui amigo, o Porto raramente, mas o Benfica após a chegada de Eusébio passou a ser a grande equipa que conhecemos hoje.
JRN
Olá,
Muito obrigada, dr. Luís, por me fazer recordar uma fase boa da minha juventude, e por poder rever o local que agora já não reconheço.
Peço desculpa ao sr.José Nobre, mas a papelaria Bica não foi fundada só depois do sr. Francisco da Bica falecer, penso que foi uns anos antes.
Trabalhei lá durante oito anos e lembro-me bem do Sr. ainda ser vivo. Fui colega do Zé Garcia durante esse tempo, e, quando eu saí, ainda o Zé lá ficou uns tempinhos, só depois o meu patrão sr. Joaquim da Paz (assim conhecido em toda a vila), se foi juntar ao irmão em Setúbal.
Cumprimentos
Muito obrigado pelas vossas informações. São importantes para construir a nossa memória colectiva e manter vivas as recordações dos espaços e locais que fazem parte da história da freguesia. Em garoto conheci bem a Papelaria Bica, onde entrei muitas vezes. As recordações que tenho do espaço e do atendimento são muito boas.
_LPR
Lembro-me muito bem da Papelaria até porque morava muito perto. Talvez se chamasse Papelaria Bica quando foi fundada. Depois, chamava-se Papelaria Maria Adelaide, creio que em homenagem à filha de um dos irmãos, Sr. Zé da Paz. Tenho ainda alguns livros lá comprados e que têm o selo com o nome.
Sobre os comentários da amiga Eufrásia, que tem razão, o Snr. Bica, irmão de m/sogra, viveu alguns anos após a fundação da Papelaria. Procuro sempre nos m/comentários resumir quanto possivel, ignorando pormenores, apenas citei o Zé Garcia como empregado por ser pessoa muito popular. Realmente o Zé da Paz foi para Setúbal antes do irmão para a Agência da Philips na Praça do Brasil. Como a Papelaria teve dificuldades, o Joaquim também foi para Setúbal onde se empregou nos Serviços de Águas da Câmara. O Zé deixou a Philips e criou a Papelaria Palma Bica, também na Praça do Brasil, depois da sua morte, a viúva continuou na casa.
JRN
Boas recordações. Foi também o “rendez-vous” da nossa mocidade. Tambem tenho ainda muitos livros lá comprados e também alguns presentes de casamento, por exemplo a minha batedeira que ainda funciona depois de 45 anos de casamento.
Os electrodomésticos nessa altura ainda duravam mais tempo e aqui fica a prova.
A minha amiga Fa tem razão no que respeita a certas datas. Estou também de acordo que nestes anos a papelaria se chamava Maria Adelaide que era o nome da filha do Zé da Paz.
Cumprimentos
Exatamente!…Chamava-se Papelaria Maria Adelaide pelas razões já citadas. Como diz o Luis, era a melhor casa de comércio nessa época em Alvalade, não era só Papelaria, vendia muito mais coisas: Livros escolares, brinquedos, perfumaria, serviços de loiça, eletrodomésticos, máquinas de costura, etc…
Tenho muitas saudades porque adorava trabalhar com o público e no tempo de férias em que muitos regressavam à terra, ali era o “ponto de encontro”; por isso fiz lá muitas amizades, algumas ainda as mantenho.
Abraços e saudades para todos
Eu sou a Maria Adelaide que deu nome à Papelaria. Os meus agradecimentos a todas as referências que fizeram à nossa Papelaria e à nossa família. Lembro-me de alguns dos vossos nomes, nomeadamente o sr.José Nobre, a D. Eufrazia e a D. Maria Ângela, que provavelmente terá chegado a andar comigo ao colo.
Fico feliz por se recordarem do meu pai como um comerciante que vendia produtos de qualidade e que lhes deixou memórias que ainda hoje perduram. A sua honestidade e integridade são o mais importante legado que o meu pai me deixou e de que muito me orgulho.
Muito obrigado, Dª Maria Adelaide, pelo seu contributo. Apenas uma ressalva: penso que se refere à Srª Dª Maria Ângela, esposa do Sr. Atayde, que já faleceu há quase duas décadas e não à Dª Maria Ângela, filha, que comentou este artigo.
_LPR
Fui o grande companheiro de seu pai, fomos os unicos rapazes a fazer os exames da 4ª classe e da admissão aos liceus em 1940 e 1941. Era para a contra loja de seu avô que iamos ouvir os relatos do futebol. Há 55 anos casei com a prima Mariana, filha de uma irmã de seu avô. O seu pai, o Armindo, o Gois eramos companheiros inseparáveis. A propósito, escrevi há poucos dias no m/Blogue Viver Alvalade, a história resumida do clã Bica, família importante nesta freguesia, porque uma nossa prima publicou um Livro de Poesia intitulado VersejAndo da autoria de Lou Alma, heterónimo de Tita Bica, enfermeira no Hosp. Lit.Alentejano e residente em Grândola, onde estão muitos Bicas da nossa família.
JRN
Eu sou a outra filha do Zé da Paz, a mais nova e, infelizmente, guardo muito poucas lembranças quer da Alvalade de há 50 anos, quer dos seus habitantes, pois saí daí apenas com 2 anos de idade.
Não quis no entanto deixar de participar, para agradecer todos os comentários feitos a propósito da nossa família e, principalmente, do nosso Pai.
Aproveito para acrescentar que podem juntar à lista de locais onde o Vosso site é acompanhado o concelho de Abrantes, que é onde presentemente me encontro.
Bem hajam.
Obrigado Luis pelo tema e obrigado a todos pelos comentários.
Adorei fazerem-me recordar os bons momentos que passei num periodo de menina e moça na Casa do Sr. Joaquim da Paz que era como era conhecido na altura. Partilhei muitas alegrias na casa deles especialmente quando tiveram a sua primeira filha que tanto desejada foi tal como a segunda também, mas desta já só lá ia de visita.
Antes da primeira menina nascer, fui para casa deles para cuidar da bebé e fazer os recados, e ganhava uns dinheiritos que me faziam jeito.
Adorei essa familia e mais tarde aqui em Setúbal chegámo-nos a encontrar e por um determinado periodo estive a par da sua vida. Cheguei a ver as meninas já crescidas e ficava feliz por as ver principalmente a mais velha que tinha sido a que mais me tinha marcado, era a minha bebé.
Recordo o quanto me faziam rir na Papelaria com a Eufrásia (que saudades que tenho de ti, nem sei por onde andas, adorava saber mais de ti recordo-te muitas vezes) e o Zé Garcia que era um maluco…
Até vou contar uma estória mais tardia de uma parte que lhe fiz, quando eu já era rapariguita mais mulherzinha e já não estavá em casa desta familia mas frequentava muito a Papelaria que aliás era grande ponto de encontro dos jovens e menos jovens, era uma casa que todos os Alvaladenses visitavam porque quase tudo lá se vendia, e como tal dava azo a estar sempre lá muita gente.
Ora isto vai aí para os anos sessenta e pouco… na minha memória.
Vou contar. Era Carnaval e o Zé Garcia, muito vivaço e um pouco atrevido… lá nos ia dando as novidades que apereciam na terra sobre os namoros e as paixões da rapaziada, porque nessa altura havia muitos, mas mesmo muitos jovens e todos conviviam uns com os outros. E as piadas, sobre esse assunto, embora eu mais nova que o Zé e a Eufrásia, ia tomando nota delas. Resolvi falar delas todas e aplicá-las em verso numa carta de Carnaval e enviei para a Papelaria ao cuidado do Zé Garcia mas não me identificando e solicitando o favor dele colocar no vidro da montra para todo o pessoal da terra ler.
Foi muito engraçado… ele claro fez isso, mas o gozo foi todo meu porque eu quase não resistia aos comentários que ele e todos faziam e a curiosidade de quem o tinha escrito… Lembro-me que diziam que tinha que ser uma pessoa que estivesse a par de tudo e que tivesse jeito para escrever quadras porque estava muito bem feito… e lá iam dando os palpites quem deveria ter sido e quando por casualidade a pessoa aparecia lá persistiam na ideia era esta ou aquela ou este ou aquele e em mim nunca falaram… Eu a ouvir e a concordar sem dar parte fraca. Foi uma brincadeira muito gira e muito bem guardada. Estou a confessar agora que fui eu. Nunca o disse a ninguém. Eu era assim. Era bem novinha mas gostava de fazer estas partes sem ninguém descobrir. A Eufrásia deve lembrar-se tal como o Zé.
Isto é a prova da magia da juventude da época. Tudo nos divertia e com tão pouco que tínhamos, havia alegria para todas as estas brincadeiras e eramos tão felizes riamos de tudo e de qualquer coisa.
Bem haja a todos dessa época e a vós todos, que partilharam com comentários sobre a época.
Um abraço para todos.
Eram outros tempos, Carmo. Que em algumas coisas deixam saudades. A vida e a sociedade mudaram muito nos últimos 25, 30 anos.
_LPR