Em Outubro, geralmente, acabam-se as limpezas das terras que têm de ser semeadas e começam a ser voltadas à charrua para a sementeira dos trigos. Faz-se também a sementeira da aveia, cevada, do centeio, depois de feita a adubação química com super fosfato de cal a 12% . Nas várzeas – terrenos de aluvião – usam o afolhamento ou rotação: estrumada a terra com estrume de curral, semeiam-se as favas; no ano seguinte, a terra que ficou azotada por esta leguminosa, dá boa colheita de trigo e a seguir, sem outra adubação, dá boa ou regular colheita de aveia. Volta-se, no ano seguinte à leguminosa e, nos seguintes, segue-se o ritmo já indicado.
Há quem faça a adubação com tremoços que, já em flor, são metidos na leiva, à charrua. Logo que o trigo tem suficiente desenvolvimento começam a ser mondadas as ervas nocivas, para o que são utilizadas as mulheres, as raparigas e também os rapazes, para cujo serviço usam pequenos sachos. Duram as mondas até Março e por vezes até Abril. Em Maio começa a ceifa da aveia e da cevada, seguindo-se a do trigo. Também as favas são ceifadas nos meados de Maio. São empregados neste serviço os homens que chegam a receber salários elevados, conforme a cotação do mercado regulador destes trabalhos.
Acabadas as ceifas, e depois de atados e feitos os molhos, são estes encilhados e seguidamente carregados para as eiras onde são arrumados em grandes medas e aí são debulhados a trilho ou à máquina. Cada máquina agrupa, em média, cerca de 15 homens que trabalham desde fins de Junho até Setembro ou mais, numa ou mais eiras. O trigo e outros cereais debulhados são recolhidos em sacos que depois de pesados e tirada a maquia da debulha, são conduzidos ao celeiro.
Em Novembro, Dezembro e Janeiro, os montados estão em plena produção de lande e por isso são percorridos por varas de porcos que engordam com os frutos caídos ou que os maiorais fazem cair das árvores. Estes frutos servem também de alimento a muitos milhares de pombos que nesta época arribam, fazendo grande desbaste. Também são muito procuradas as azinheiras de fruto doce de que se fazem grandes rosários e que os alentejanos comem com agrado depois de aveladas, isto é, depois de estarem algum tempo ao fumeiro. Estes frutos são muitas vezes roubados para alimento de porcos caseiros e até para negócio.
Azeitonas – Em fins de Novembro começa a fazer-se a apanha da azeitona já caída e da outra varejada ou ripada, serviço geralmente feito por mulheres, raparigas e rapazes e por alguns homens que tenham de subir às oliveiras. Antes de começar o varejo da azeitona são estendidos no chão largos panos de linhagem e daí é apanhada a azeitona que, depois de cirandada e separada das folhas, é recolhida em sacos indo para o lagar que a fabrica com pequena demora, visto que os lagares locais usam já a moenda e a pressão do bagaço por processos modernos, pelo que a salga só é empregada na azeitona reservada para o fim da safra. Feito o azeite e tirada a maquia, vem para casa em talhas de folha ou bidãos. Nos últimos anos, na área desta freguesia, têm sido plantados alguns milhares de oliveiras que vão sendo limpas e educadas por sistema diferente do antigo, o que torna a apanha dos frutos mais fácil e proveitosa.
Vinhas – Em Outubro faz-se a vindima que dura, mais ou menos, segundo o volume da colheita. Há na freguesia algumas vinhas importantes pela sua extensão e produto. Salienta-se, entre todas, a vinha de Conqueiros, pela sua grande área e por ser dotada de grande adega que trabalha segundo os modernos processos da enologia, fabricando boa aguardente, vinhos licorosos e de pasto que são vendidos em grande escala. Há outras vinhas cujo vinho é consumido na freguesia. Colhidas as uvas, os proprietários que possuem ovinos metem-nos nas vinhas para lhe comerem as parras das cepas, fazendo-se a poda em Novembro, depois a cava que é feita com o charrueco e com um só animal, quando os alinhamentos das cepas são largos, ou à enxada, quando são estreitos.
_Apontamentos históricos do Padre Jorge de Oliveira (1865-1957), pároco de Alvalade entre 1908 e 1936, para uma monografia que não chegou a publicar.
É espantosa a atenção que o Padre Jorge Oliveira dava a tudo, na arqueologia, na história de Alvalade ao longo de séculos que foi estudando por diversos achados. Sei que os alvaladenses sempre que achavam uma moeda antiga, ou qualquer outro objecto quando lavravam ou cavavam a terra, iam entregar ao Snr. Padre.
Desenvolveu a actividade musical, criando uma escola de música e muitas outras, mas não ignorou, antes se interessou, pela Agricultura, como prova o artigo que o Alvalade.info nos revela, mas sem deixar de exercer a sua notável missão eclesiástica.
Para quando a grande homenagem à mais importante personalidade de Alvalade no Séc.XX ?
JRN
A melhor homenagem que podemos fazer ao Padre Jorge é divulgar o que foi e significou para Alvalade no seu tempo, e o legado histórico e etnográfico que coligiu e que aqui, nesta página modesta, temos dado a conhecer a Alvalade e ao mundo.
_LPR
Estou totalmente de acordo com o Dr. Luís Pedro Ramos a quem deixo o meu agradecimento pela verdadeira e mais importante homenagem que tem feito ao Padre Jorge de Oliveira.