Uma sondagem pictórica realizada na passada sexta-feira na abóbada da capela-mor da igreja da Misericórdia de Alvalade, confirmou o que alguns técnicos há muito desconfiavam e produziu aquele que poderá ser um dos achados mais importantes e espectaculares dos últimos anos no património histórico alvaladense. A mão e a mestria da conservadora e restauradora de arte Carla de Freitas, ao serviço da câmara municipal de Santiago do Cacém, colocaram a descoberto pequenos sectores de uma pintura a fresco, com motivos religiosos, que se prevê cobrir integralmente a abóbada da antiga igreja da Misericórdia e que terá estado, durante muito tempo, coberta e escondida por várias camadas de cal.
Aparentemente em bom estado de conservação, esta pintura mural a fresco, cujo valor ainda não é conhecido, pode ser mais um importante motivo de visita turística e cultural para Alvalade e para o núcleo museológico previsto para aquele espaço. Para já, a prospecção colocou a descoberto 3 anjos de uma composição pictórica que ocupará toda a abóbada do templo quinhentista alvaladense que só uma intervenção mais profunda de resgate, estudo e datação permitirá conhecer melhor, sabendo-se, contudo, que e pintura mural no Alentejo conheceu o seu ponto criativo mais alto nos fins do século 16 e na primeira metade do século 17.
A um mês das festas do foral, a pintura a fresco agora descoberta pode valorizar o evento e ser um local de visita obrigatória para os turistas e visitantes do “Alvalade Medieval”, e no futuro contribuir, também, para integrar a freguesia numa qualquer rota do património do Litoral Alentejano e, eventualmente, nas rotas do fresco do Alentejo. Por isso mesmo fazemos votos, daqui, que depois desta sondagem prossiga o trabalho de resgate, estudo e salvaguarda das pinturas murais agora descobertas na Misericórdia, em pleno coração do centro histórico de Alvalade.
_LPR
Agradecimento: Ao presidente da Junta de Freguesia de Alvalade, Rui Madeira, pela partilha da notícia do achado e autorização para a sua divulgação.
Que maravilha! Como somos homens de pouca fé! Afinal Deus olhou para esta Sua terra!
Talvez isto seja um ponto de viragem para a dinamização de Alvalade.
Sempre achei que Alvalade ainda tem muito para descobrir devido à sua antiguidade. Gostava bastante de ver esta pintura.
Confio no interesse da Junta de freguesia e da Câmara Municipal para o aproveitamento deste Tesouro histórico.
JRN
Como foi possível tanta falta de sensibilidade para tapar com cal uma pintura desta natureza???
Estou convencida que este achado irá ter a valorização devida e, no futuro, será mais um motivo de interesse para visitar Alvalade.
“(…) enquanto crescia no resto do país a moda da talha, do azulejo e da pintura sobre tábua ou tela, a pintura mural alentejana desenvolveu a sua função catequética com composições figurativas de larga escala. Recursos económicos insuficientes, impeditivos de chegar à boa pintura a óleo, têm sido apontados como causa para a diferenciação artística, ao nível da pintura mural, entre esta região e o resto do território nacional. Mas outras razões surgem de forma bem mais evidente…
É o caso da tipologia das construções religiosas no Alentejo: maioritariamente ermidas ou capelas de uma só nave, com cobertura de pedra, e marcadas pela robustez e opacidade dos alçados (sustentados por contrafortes possibilitadores do lançamento das referidas abóbadas de alvenaria de tijolo) protectores das elevadas temperaturas exteriores. Ou seja, uma extensa superfície apta a ser decorada, a exiguidade do espaço convidando à pintura monumental.
A questão climatérica tem também sido utilizada como justificação para a predominância da pintura a fresco nesta região em detrimento de outras regiões do país. Contudo, esta será uma razão absolutamente secundária, prendendo-se a opção pela técnica da pintura a fresco muito mais com a abundância de cal que se verifica nesta região, bem como com a tradição do seu manejo do que propriamente com a boa conservação do fresco que o bom tempo asseguraria”.
E foram as sucessivas caiações que hoje permitem que os frescos ainda subsistam e, eventualmente, estejam em bom estado de conservação:
“Outra particularidade do núcleo de pintura mural alentejano é a constatação deste ter chegado, em grande parte, até aos nossos dias. Esta situação deve-se essencialmente a três factores: em primeiro lugar, ao facto da maioria da pintura ter sido executada na técnica do fresco; por outro lado, à inexistência de recursos financeiros – cada vez mais evidente – que permitissem a alteração dos edifícios ou do seu interior; por fim, ao recurso à cal quando a pintura estava desgastada, permitindo assim a sua conservação e posterior resgate (se fosse caso disso) quase incólume. A desertificação crescente com o consequente esquecimento ao qual o património alentejano esteve votado ao longo de todo o século XX, determinaram também a quase inexistência de adulterações significativas neste acervo pictórico”
Fonte: Rota do Fresco
_LPR
Como alvaladense que me prezo, é com enorme orgulho que tomei conhecimento de tão rica descoberta na Igreja da Misericórdia, estou certa que será uma mais valia para a dinamização da história da nossa vila. Parabéns ao Dr.Luis Pedro pela divulgação prestada e pelo o seu enorme empenho pela história Alvaladense.