Com a ermida reduzida a alguns restos de paredes, em S. Roque já não se ouve o rebentar dos foguetes, nem o burburinho alegre do povo, ou a música de Beja como no dia 16 de Agosto de 1687. Quem vai hoje a S. Roque, na herdade do Faial, não consegue imaginar a azáfama que por lá se viveu em Julho e Agosto de 1687, para reparar a pequena ermida e dar festa digna ao seu patrono no 16 de Agosto, como era tradição no concelho de Alvalade. O estado de decadência e abandono a que tinha chegado a capelinha comoveu Pedro Fialho, prior da igreja matriz de Alvalade, à época, depois da visita a um doente, na Carregueira. Decidido a reabilitar o pequeno templo, o sacerdote viu-se obrigado a despender dinheiros próprios, em 13.610 réis, a que juntou as rendas atrasadas que cobrou de duas courelas que o Santo detinha, ficando a obra num total de 22.460 réis. A iniciativa surpreendeu os mordomos da igreja matriz, que prontamente assumiram as despesas da festa a S. Roque, no 16 de Agosto, com a dignidade que a data merecia, querendo compensar, dessa forma, o gasto do padre Pedro Fialho.
Antes do fim de Julho, a ermida estava como nova e a cal que o Manuel Fernandes Esquece foi buscar a Vila Nova de Milfontes devolveu-lhe a alvura de outros tempos e destacava-a no verde dos campos. A comissão, entretanto formada, organizou dois dias de festa rija, começada logo na véspera do dia de S. Roque.
Nos ornamentos sobressaia, imponente, um arco triunfal, e diversos mastros com festões de verdura. Junto da ermida foi improvisado um púlpito, para as solenidades, e um pequeno palco para a banda esperava os músicos, que viriam de Beja. O fogo preso e os foguetes também já estavam a postos. Para os comes e bebes, reuniram-se, graciosamente, “ (…) trinta alqueires de pão cozido, um novilho e seis chibatos já esquartejados, e uma pipa de vinho”. À sombra dos freixos ao redor da ermida, já diversas mesas aguardavam os petiscos e o muito povo esperado, que seguia ansioso e em passada larga pelas veredas e atalhos em direcção a S. Roque. O dia 15 teve foguetes e fogo preso, um concerto pela filarmónica de Beja e os ofícios solenes, que contaram com o prior do Roxo. O povo não arredou pé do local e ficou-se por ali, adormecendo as emoções ao relento de uma noite de Verão. O dia de S. Roque prometia festa ainda maior. O 16 de Agosto começou com o romper do Sol e ao som dos clarins, que todos despertaram e juntaram para a missa solene do grande dia. A banda de Beja voltou a extasiar os presentes. Já pela noite, o fogo preso deslumbrava e a debandada no fim da festa fez-se a custo e já com saudade: “(…) ah Santo amigo, mesa farta como a tua, nunca mais…”.
_LPR
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