Em Abril de 1970, quando se preparava o terreno para a construção dos degraus de acesso ao adro da igreja matriz de Alvalade (na imagem), surgiu um esqueleto humano acompanhado de uma taça de prata e segurando, numa das mãos, um pequeno saco com uma faca e um garfo, ambos com cabo em osso. O achado é ainda hoje confirmado por algumas testemunhas que viram as peças e até sabem qual foi o seu destino.
Muito recentemente foram identificados dois enterramentos humanos durante as obras de reconstrução de um imóvel, em pleno largo da igreja. Não houve qualquer registo destes achados nem acompanhamento arqueológico da obra.
Ainda não decorreram 10 anos sobre o achado de um tesouro monetário na rua Dr. António Guerreiro Fernandes, em pleno coração do centro histórico, durante a abertura de uma vala no âmbito de uma intervenção da EDP. Mais de 70 moedas de prata, cunhadas no século 16, dentro de um pote, que o trabalhador da obra e achador guardou para si e depois vendeu ao desbarato como se fossem laranjas. Mais um achado que se perdeu, novamente numa obra sem acompanhamento arqueológico.
Há meia dúzia de anos ocorreu um novo episódio, caricato, desta vez no decurso de uma intervenção de reabilitação do monte do Roxo. Uma cantaria de origem romana e reutilizada no período visigótico foi resgatada dos solos da herdade e oferecida pelos donos do Roxo para o núcleo de arqueologia de Alvalade. Enquanto uma equipa da câmara municipal seguia a caminho do Roxo para a recolher, os proprietários da herdade mudaram de ideias e enviaram a peça para Ferreira do Alentejo. Outro achado que se perdeu também na sequência de uma obra sem acompanhamento arqueológico num local de grande interesse histórico há muito conhecido e referenciado.
As más notícias mais recentes sobre o património arqueológico de Alvalade dão conta de mais um caso, agora em Conqueiros, ocorrido há poucos dias. Conta-se que uma lápide com uma inscrição romana inédita e outros achados arqueológicos importantes recolhidos nas terras da herdade e que estavam guardados no monte há vários anos, terão sido atirados para uma ribeira, alegadamente num acto de vingança contra um dos proprietários de Conqueiros.
São apenas alguns exemplos que comprovam a situação frágil em que se encontra o património arqueológico de Alvalade e da delapidação grave que tem sofrido. De 1970 a 2014 são incontáveis os achados arqueológicos na vila e nas terras alvaladenses, que dariam para encher duas ou três igrejas da Misericórdia. A maioria ou estão perdidos ou saíram de Alvalade para outras paragens, algumas delas conhecidas. Este cenário, que coloca em risco um dos recursos importantes da freguesia, poderá ser invertido com a criação do núcleo de arqueologia de Alvalade e a estabilização de uma equipa municipal para o património (que inclua um arqueólogo), com meios e condições para dialogar e negociar com os proprietários dos terrenos, obter autorizações para fazer prospecções, escavações, e efectuar o acompanhamento arqueológico das obras nos locais mais sensíveis da freguesia.
_LPR
Como é possível situação tão lamentável? O acompanhamento arqueológico e antropológico de obras, este último no caso de aparecer material osteológico, são obrigatórios por lei. Alvalade, não é – infelizmente – caso único… Falta bom senso, seriedade e, direi mesmo, inteligência. Que o futuro nos traga novos ventos e não esqueçamos que todos somos responsáveis quando se trata de defender e valorizar o Património – em casos destes devem-se avisar as autoridades competentes. Sem receios e sem demoras. Abraço de Grândola para Alvalade.
Idálio Nunes
Caro Luís: ao longo do tempo e do meu tempo, sempre foram aparecendo peças de algum (ou muito) valor, umas praticamente destruídas, outras levadas para Lisboa e outros sítios. Há pouco tempo foi-me comunicado a história de um pote enorme que serviu dezenas de anos para adoçar azeitonas, mas que depois foi sendo feito em fanicos e desapareceu.
Em Alvalade dá-se pouco valor ao património antigo. Decerto vistes, o estado em que estava a ponte Romana…..num total abandono. Alguém publicou a imagem e no outro dia, foi limpa!….
Com uma equipa no terreno devidamente estruturada e estabilizada, que inclua um arqueólogo, muitas destas situações nunca teriam acontecido. São um prejuízo enorme para Alvalade e para o património do concelho.
_LPR
Que noticia tão triste… onde andam as entidades competentes para evitarem essa falta de respeito pela história de Alvalade? Sinto muito Luis que tanta coisa má esteja a acontecer a essa Terra que cada vez mais dá sinais que debaixo do seu solo está a verdadeira história dessa Terra tão pequena mas de elevada riqueza arqueológica.
E a que vai sendo encontrada vai saindo para lugares alheios aos conteúdos, sem que alguém ponha termo a essa falta de respeito pela Terra.
Que haja alguém que algo faça para que tudo o que aí seja encontrado seja justamente exposto na própria Terra a quem tudo pertence.
Obrigado pela noticia. Beijinhos
Lamento muito tudo isso porque Alvalade deve ter ainda muita história para descobrir.