Alvalade já foi triste
Com muitas vidas azedas
Hoje é alegre e resiste
Como a ladeira do Quedas
Ladeira do Quedas onde
Eu brinquei quando menino
Ou jogando ao esconde-esconde
Ou então fazendo o pino
As moças do Cerradinho
Por ela é que iam à fonte
Com namoros no caminho
E um altar no horizonte
A meio da ladeira a guarda
Guarda a ladeira e a vila
O povo gosta da farda
E a ladeira não refila
Com a cancela fechada
Vinha o comboio a carvão
Tinha quatro carruagens
Todas cheias, e um vagão
Com gente rica em moedas
Que vinha em busca de praias
Mas na ladeira do Quedas
Os moços davam-lhe vaias
Quando o sol vinha em viagem
Por entre atalhos e veredas
Ninguem mostrava coragem
Para subir pelo Quedas
Ai as ladeiras da vida
Que eu já subi e desci
As ladeiras da descida
Foi as que mais eu sofri
Viva a ladeira do Quedas
Que sobe e desce ao avesso
Não tenho dobrões nem sedas
Mas do Quedas não me esqueço
O “alvalade.info” regista sentidamente e agradece ao poeta e escritor Alvaladense Eduardo Olímpio o envio, ontem, pela mão do próprio, deste poema dedicado à Ladeira do Quedas que hoje publicamos.
O caso de Eduardo Olímpio é apenas mais um, a somar a outros mais, de Alvaladenses com valor reconhecido que andam esquecidos pelas nossas gentes. Infelizmente. Apesar de ter tido homenagem pela Casa do Povo, há alguns anos, o escritor e poeta Eduardo Olímpio é um Alvaladense prestigiado, de mérito e valor reconhecido, que merece justificadamente mais divulgação e carinho da freguesia e do concelho.
_LPR
Obrigado Eduardo, pelo teu belo poema dedicado à Ladeira
para onde vim viver aos 5 anos, onde também brinquei e onde
hoje vivo. Lembro-me do carrinho feito com uma caixa de sabão
vazia e rodas de ferro das charruas. Desciamos a ladeira, conduzindo
o carrinho, mas para cima era puxado por cordas.
Quando já adolescentes era uma “fineza” subir a ladeira de bicicleta. Poucos conseguiam, o piso era de terra batida e pedras, hoje com o
asfalto qualquer ciclista a sobe.
JRN
Olá Luís Ramos, Olá a todos
Não conheci o Sr. Eduardo Olímpio, mas dou-lhe os parabéns pelo poema e agradeço-lhe por me fazer lembrar desses lugares, onde também eu vivi.
O Quedas, (o Sr. Claudíno, que tinha sempre um sorriso e boas maneiras, quando eu lá ia comprar “alcagoitas”) recordo-o com saudade. A ladeira era o caminho que eu subia e descia, a correr, para chegar à minha casa que se situava junto à cancela.
Eduardo Olímpio está para Alvalade como Manuel da Fonseca está para Santiago do Cacém. Dois escritores naturais do concelho com obra reconhecida.
Mas enquanto em Santiago Manuel da Fonseca é constantemente homenageado e a sua obra recordada e divulgada, e deu o nome a uma biblioteca municipal e a uma escola, em Alvalade Eduardo Olímpio tem sido perfeitamente ignorado e nem sequer uma simples homenagem individual ainda teve, por exemplo com a atribuição do seu nome a uma rua da terra.
Em Santiago e no concelho quase toda a gente já ouviu falar e sabe quem foi Manuel da Fonseca.
No concelho, e especialmente em Alvalade, poucos sabem quem é Eduardo Olímpio e serão ainda menos os que já leram alguma obra dele.
Alvalade, infelizmente, é também isto…
_LPR
Ao consultar recentemente a página de internet da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, verifiquei que no atalho Concelho -> Personalidades apenas se encontravam 6 nomes:Manuel da Fonseca, António Chainho, Frei André da Veiga, Chöe Mac Millan, Ti Manel Zé do Tojal e Alda Guerreiro Machado. De imediato enviei um email para a Divisão de Comunicação, para fazer uma reclamação/sugestão… Referi que existiam no concelho mais do que aquelas 6 personalidades dignas de referência, dando como exemplo os nossos escritores Eduardo Olímpio, Domingos de Carvalho e Augusto Deodato Guerreiro. Soube que o email foi encaminhado para o departamento responsável pelos conteúdos do site e verifiquei agora que já foram acrescentados novos nomes a esta lista, na qual agora já constam os acima mencionados. Não se trata de qualquer forma de homenagem nem nada que se pareça, mas parece-me justo que sejam ali destacados estes e outros grandes nomes da nossa terra! Sugiro portanto que quem se recorde de alguém que ali deva ser mencionado faça a sugestão à Câmara Municipal… afinal de contas esta página da internet é uma espécie de cartão de visita de TODO o concelho.
Felicito a Maria João pela iniciativa. Exerceu um dos seus direitos de cidadania enquanto alvaladense defendendo um tratamento igual para as personalidades e escritores da nossa terra na página municipal comparativamente com outros do concelho.
_LPR
Também não conheço o Sr. Olímpio mas adoro ler poesias sobretudo quando me fazem lembrar a minha terra, e a ladeira do Quedas foi um lugar que frequentei bastante pois morava ao lado. As recordações são muitas deste sitio. Corria para baixo para ir brincar com a minha amiga Eufrázia e vinha a correr para cima quando ouvia a minha mãe chamar-me.
Há uma recordação que ficou para sempre na minha memória…”as andorinhas” faziam ninhos na casa do Sr. Garcia e quando fecho os olhos e sonho ainda oiço o barulho que faziam…
Ainda não há muito tempo ouvi um fado em que a letra foi feita por este senhor. Adorei…Fui hoje ao Alentejo. Espero que este senhor seja homenegeado pelos Alvaladenses.
Até breve.
Este poema é lindissimo.
Acredito que essa ladeira tem algo de especial para todos os Alvaladenses, mais não seja uma ou outra recordação. É relembrada com saudade neste poema.
Parabéns Sr. Olímpio.
Eduardo Olímpio, para além de ser meu familiar é meu amigo. É um escritor incompreendido e logo marginal. A qualidade literária dos seus textos encontra-se bem patente na sua obra, principalmente nas crónicas e particularmente nos livros “Um Girassol Chamado Beatriz” ou “Às Cavalitas do Tempo”, que considero duas obras sublimes. Não é por acaso que existem excertos da sua prosa e poesia que integram muitos manuais e compilações de textos literários, ao lado de Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade, Manuel da Fonseca e tantos outros nomes bem conhecidos.
Espero que os alvaladenses ganhem alguma curiosidade que lhes provoque apetência para conhecer a obra dum nosso conterrâneo e amigo, que injustamente foi condenado ao esquecimento.
Um grande abraço, primo Eduardo.
Carlos
Absolutamente de acordo. Parte significativa da obra de Eduardo Olímpio insere-se, reconhecidamente, no neo-realismo português, que no concelho de Santiago encontra em Manuel da Fonseca o seu maior representante.
Como alvaladense gostaria muito de ver a obra de Eduardo Olímpio mais divulgada em Alvalade e o seu nome atribuído a uma rua de vila.
Homenagens sim, mas em vida. Não post mortem…
_LPR
Volto a intervir no apoio ao poema do Eduardo Olimpio dedicado à ladeira onde ainda hoje vivo. “O Quedas”, taberna típica que foi de meu sogro, está agora a ser transformada em clube nocturno, graças a um grupo de jovens de Alvalade, a quem demos, como proprietarios, todas as facilidades para que o local tenha vida e seja ponto de encontro de jovens.
Sobre o Eduardo Olímpio para comunicar que acabo de receber, com dedicatória do autor, o seu último trabalho, “Enlouqueço Amanhã” que reune quase toda a sua poesia e prova o alto valor de um dos melhores poetas contemporâneos.
Na contra-capa estas frases: “Somos todos coisas pequenas. Nomes para esquecer”.
JRN
Amigo dos meus tios, Eduardo “Estelano” , foi sempre um nome referenciado na minha família. Depois de ter casado, soube que Eduardo era amigo dum tb grande escritor, critico literário e poeta, Armando Ventura Ferreira (irmão de m sogra).
Tenho em meu poder quatro livros que Eduardo autografou e ofereceu ao meu tio Armando. Tb o meu tio Domingos tinha os mesmos e q passo a citar. ÀS CAVALITAS DO TEMPO. De 1974…UM GIRASSOL CHAMADO BEATRIZ. De 1975, ANTÓNIO DOS OLHOS TRISTES de 1978, TERNURA de 1979.
No Diário Popular, BRANQUINHO DA FONSECA, escreve “Uma força poética tão grande e um tão profundo conhecimento da vida como muito raramente nos foi dado ver em páginas de novos ou de mestres consagrados”. Leia-se em contra capa de ANTÓNIO DOS OLHOS TRISTES.
Queridas Céu e Eufrásia…..Quantos vezes subimos.
…….subimos a ladeira que foi a primeira entrada de Alvalade em tempos mt longínquos …. E digo subimos pq a descer todos os santos ajudam….., mas tb naquele tempo nada nos custava…..nem o virar da esquina q o sr José Nobre dizia..”ninguém vira uma esquina mais rápido que a Dorinhas” ….Um forte e apertado abraço para todos aqueles que tiveram estas subidas e descidas nas ruas de Alvalade-Sado nesses tão doces anos sessenta….
Ainda acerca de Eduardo Olímpio, gostava de referenciar a sua comparticipação….nos poetas contemporâneos…….. na antologia “800 Anos de poesia Portuguesa” (círculo de leitores ….Outubro de 1973). a fls 470 a 472,tb Armando Ventura Ferreira a fls 343 a 346… EDUARDO OLÍMPIO nasceu em Alvalade-Sado em 1934.
Lindo, lindo o poema!
Li e reli.
Ninguém que tenha vivido em Alvalade, ou por Alvalade tenha passado, poderá não ter uma lembrança da Ladeira do Quedas.
Eram as mulheres que iam à água à bica. Eram as que iam lavar a roupa ao tanque.
E o Ti Zé Mansinho, com o seu carrinho de madeira levado à mão com 6 bilhas de barro encaixadas, ladeira abaixo, ladeira acima, fornecendo água às senhoras que não queriam subir e descer a ladeira.”Quartas d’ água” a cinco tostões cada uma… Já lá vão uns bons 60 anos…
Eram os passeios à bica pela Ladeira do Quedas, nas noites de Santo António!
Tantas lembranças, que nos aviva na memória o poema de Eduardo Olímpio …